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A mostrar mensagens de setembro, 2011

Acertar o passo

O Papa Bento XVI encontra-se em viagem pela sua Alemanha natal e nos discursos e homilias que já proferiu, para além de ter classificado de “chuva ácida” o nazismo e o comunismo, encontrou-se com algumas das vítimas da pedofilia em instituições católicas, tendo-se confessado perante elas “comovido e abalado”. Ao mesmo tempo e num encontro de jovens, o Papa afirmou que a Igreja jamais poderá aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Começa a ser um hábito estas desculpas tardias da Igreja e dos Papas relativamente a situações negativas do passado. Se o combate ao comunismo foi recorrente no tempo em que a cortina de ferro dividia a Europa, não consta que Pio XII tenha sido veemente nas criticas e no combate ao nazismo quando milhões de judeus eram perseguidos e mortos na Europa, nem tão pouco se assistiu à implementação de medidas duras logo que a questão da pedofilia começou a ser denunciada em algumas instituições católicas. As desculpas não se pedem, evitam-se. Os tratame

Nossa Senhora das Descobertas

Quando viajo pelo país em ritmo de passeio, algo que não dispenso nunca, é visitar os santuários, capelas e ermidas que vou encontrando no meu caminho, muitas vezes em lugares ermos e de difícil acesso, mas que já me possibilitaram muitas vezes o encontro com verdadeiras pérolas da arquitectura religiosa e popular, assim como a descoberta de lendas fantásticas. Nestes meus percursos de fim-de-semana e férias, em que me cruzei com as mais variadas e imaginativas evocações de Nossa Senhora, jamais tinha encontrado a de Nossa Senhora das Descobertas. Só a descobri na semana passada quando procurava no site do Patriarcado de Lisboa, um horário de missa que fosse compatível com os meus afazeres dominicais. Fiquei então a saber que a Igreja de Nossa Senhora das Descobertas se situa em Lisboa no sítio mais insuspeito que possamos imaginar: o piso -1 do Centro Comercial Colombo. Foi lá que fui à missa no domingo passado. O espaço não é grande mas é acolhedor, sobretudo se tivermos em cont

A “velha” Europa

Numa das manhãs desta semana, cruzei-me na Área de Serviço de Pombal, na A1, com o casal Mário Soares e Maria Barroso, que tal como eu e as restantes pessoas, se encontravam ali a descansar a meio de uma viagem para algum sitio a norte. Confesso-vos que nunca fui fã e adepto do Soarismo, nem nunca me senti identificado com o clã e a família, de sangue e política, que sempre gravitou à volta de Mário Soares, em jogos mais ou menos subtis pela conquista do poder das mais variadas instituições, mas tal não me impede de reconhecer nele um dos ícones maiores do Século XX Português, e, de entre os Portugueses actualmente vivos, reconhece-lo como aquele que mais positivamente influenciou a nossa história recente, pela conquista da liberdade e pela nossa integração na Europa. Se há coisas que a vida nos oferece é esta virtude de aliviar o absoluto das certezas, e também a capacidade de aumentar o enfoque no que é realmente importante e positivo, e por isso, eu que não sou um Soarista, não pu

A infernal vertigem do tempo.

O velho Largo dos Capuchos, formado pelo triangulo das igrejas de S. Luís, S. Tiago e Senhora da Piedade, cumprindo a tradição calipolense de cada largo ter três igrejas, no segundo fim-de-semana de Setembro, cobre-se de festa e converte-se na sala de visitas de onde qualquer natural de Vila Viçosa jamais quer estar longe. Ali, iluminados pelas luzes do arraial, andamos numa azáfama tão grande entre os Capuchinhos e as igrejas, a pesca ao pato, as farturas, as quermesses e o concerto da banda filarmónica no coreto, que até nem damos conta que às tantas já só respiramos pó, tal a quantidade de pés que se movimentam no piso amarelado e arenoso que cobre o largo. Antes que chegue a madrugada e antes que soem os morteiros que dão fim ao fogo de artificio, verdadeiro tiro de partida da corrida que põe os calipolenses de regresso às suas casas na vila, a pé porque é mais saudável e não há espaço para carros, o mais divertido e saboroso da festa é encontrar os conhecidos, os amigos de muito

Um cafezinho com… a amizade.

É sábado de manhã e o ambiente é de festa na praça maior de Vila Viçosa. Já rebentaram foguetes pela madrugada, anuncia-se a tourada e a largada do dia seguinte, há um movimento anormalmente maior de gente, prepara-se a ida nocturna ao arraial… Enfim, cheira a Capuchos e saboreia-se um dos mais agradáveis apelos de regresso a casa para a diáspora calipolense. A um canto da abarrotada esplanada do Café Restauração, há uma mesa com quatro pessoas que conversam animadamente. Há um pai de família, professor respeitado e empenhado, pessoa com militância católica muito activa sendo inclusive salmista nas celebrações litúrgicas da paróquia onde é um dos membros mais destacados. Há uma celibatária artista plástica, mestra e professora de artes preocupada com o painel de azulejos que tem em mãos e que a traz muito ocupada. Há uma senhora casada mas sem filhos, proprietária de um restaurante e de uma loja de artigos associados a práticas místicas e sobrenaturais, pessoa com reconhecido suc

A lição do medo

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A foto acima recorda-me a tarde do dia 30 de Agosto de 1998, na primeira vez em que subi às torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque. Guardei a foto e com ela o bilhete de 12 dólares que me possibilitou o acesso ao “topo do mundo” para ver de forma privilegiada a ilha de Manhattan, coração desta cidade que nunca dorme e que é definitivamente a cidade do mundo de que mais gosto. Um dia há não muitos anos, numa candidatura de Nova Iorque à organização de uns Jogos Olímpicos, o lema escolhido foi o mais verdadeiro possível: “Nova Iorque – A cidade que é a segunda casa para toda a gente”. Tenho dificuldade em enunciar os motivos pelos quais gosto de Nova Iorque. É sempre assim quando tentamos justificar pela razão o que é eleito pelo coração. Mas talvez o principal motivo seja o conforto que a cidade oferece a todos, fazendo com que as múltiplas culturas, religiões ou etnias não possam ser designadas por diferenças, sendo apenas e só, cores diferentes num painel perfeito e il

Eficiência à Portuguesa

São 10 horas e 30 minutos e eu chego à Estação dos CTT do Cacém para levantar uma encomenda. Dirijo-me à máquina fornecedora de senhas, escolho a categoria de atendimento geral e recebo a dita com o número 94. Apercebo-me então, vendo um quadro electrónico que apita a cada mudança de número, que o último cliente a ser chamado para o atendimento geral foi o da senha 74 e compreendo então o motivo pelo qual a sala está tão repleta de gente. Procuro um local que me permita ver o dito quadro que passa os números e não impeça a visão dos meus companheiros de sala, e inicio a minha espera. A estação tem 8 balcões mas só 3 estão em funcionamento beneficiando da presença de uma funcionária. A mudança dos números, sinal de mais um cliente que vai sair porta fora, é sempre antecedida pelo soar de um carimbo, que é batido com tal vigor, que mais parece o rebentamento de uma bazuca em cenário de guerra. Só que é longo o tempo de espera entre cada conjunto formado pela “carimbadela violenta” e

Abaixo o hambúrguer. Viva a bifana!

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Engana-se redondamente quem alguma vez pense ou afirme que os Portugueses são destituídos de imaginação. Na recente vertigem para encontrar formas extra de financiamento para o estado, têm surgido as propostas mais variadas e imaginativas, entre as quais a do célebre imposto sobre a “fast food”. A ideia seria taxar a comida rápida com um imposto adicional que não só ajudaria o estado a obter mais receita, como também funcionaria como incentivo à procura de alimentos mais saudáveis e indutores de mais saúde e melhor qualidade de vida. Embora reconheça que ambos os objectivos são legítimos, financiamento e melhor saúde, não estou minimamente de acordo com esta medida. Em primeiro lugar, discordo porque a grande maioria das pessoas que recorre a este tipo de alimentação, quando o faz, não é apenas por prazer e pura opção, fá-lo por este ser o tipo de comida que melhor se enquadra ao seu estilo e ritmo de vida, onde o tempo é um bem cada vez mais escasso. Depois, numa altura em que as

O Rei Mono e o Senhor Sempre-em-pé

No cardápio de políticos da nossa terra, confesso-vos que há dois nomes pelos quais não nutro a menor das simpatias e a quem jamais daria o meu voto em qualquer eleição: Jardim e Santana. Na forma, no conteúdo, no percurso e no estilo, estão ambos nos antípodas do que eu considero um estadista, não lhe reconhecendo perfil e mérito para poderem gerir ou liderar alguma causa ou instituição. O primeiro é o populismo na sua máxima expressão em terras lusitanas. Com túneis, pontes, auto-estradas e muita verborreia, tem ao longo de anos disfarçado uma gestão que sobrevive à custa de um anormal suporte financeiro dado pelo poder central, sempre com a desculpa de se estar a ajudar à inclusão de uma região periférica, o mesmo poder central com o qual Jardim luta todos os dias, fazendo-o papão e desgraça, numa vergonhosa atitude de quem despreza a mão que lhe dá de comer. Não tenho nada contra apoios extraordinários e acho que a insularidade deve merecer uma atenção especial por quem está no