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A mostrar mensagens de junho, 2018

First family...

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Na antecâmara do verão, os últimos dias foram os mais longos do ano, e aqui desde a janela que nomeei “guarita norte” da minha humilde casa, vou espreitando esta luta dos dias, que recusam render-se à noite, por entre as batalhas que tingem o céu de fogo e de cores quase impossíveis. Era tão bom que todos aprendêssemos a rezar assim, sem fórmulas pré-escritas e reconhecendo Deus na liberdade… Mas estes também têm sido os dias das gaiolas, com os meninos enjaulados a cruzarem os seus olhares de medo com as grades de ferro e arame em que alguém os fechou. O maior pecado do mundo é cometido por quem troca o mel pelo medo no olhar dos meninos. Numa recente visita a Washington vi à venda postais com a foto da “First Family”. “Shame on you Mr Trump”, apetece-me dizer. Os primeiros são aqueles que tratam os outros na coerência da dignidade que reclamam para si próprios, sendo deplorável que a “Primeira família” não pratique a regra da “família primeiro”. “Eu não consigo ver essa

Todos os livros são cartas de amor...

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Tenho não sei quantas histórias guardadas no peito, que um dia escreverei para ti, talvez em segredo, para que tu as possas ler sob o perfume doce das tílias, nas tardes de primavera. Sim, porque só o amor descodifica os trincos dos pórticos desse sagrado silêncio onde fomos guardando tudo aquilo que o tempo nos fez sentir. Por isso, se me perguntarem aquilo que sou, manda a verdade que eu diga que por ti me fiz pedreiro, só para poder aprender a melhor técnica de rasgar janelas no peito e no silêncio, depois de devidamente escancaradas as suas portas. Mas por ser necessário vestir palavras a esse tanto que espreita nos parapeitos dos sentidos, eu assumo que por ti também me fiz alfaiate, de modo a poder ajustar cada letra ao mais ínfimo detalhe, sem necessitar de recorrer a forros ou entretelas. No jardim onde te sentas a ler, construíram entre as tílias, um cavalo alado, aproveitando a madeira de algumas árvores que o tempo secou. Quantos beijos abraçaram essas árvores? De q

Quanto tempo existe no espaço de uma hora?

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- Quanto tempo existe no espaço de uma hora? Eu roubei-me à pressa de um fim de tarde de trabalho, mas a enormíssima maioria dos espectadores que comigo se sentaram no teatro, fizeram-no relativamente à dolorosa lentidão dos seus dias. De início toda a gente me olhou de viés, mas depois das primeiras palmas e dos sorrisos cúmplices, quando se certificaram que eu não me equivocara e que sabia muito bem àquilo que ia, adotaram-me facilmente como um dos deles. Talvez o substituto do neto que se esquece de passar lá no lar. O meu colega Renato reformou-se há alguns anos, e agora, com a idade já pelos setenta, juntou-se a um grupo de seniores para ensaiarem um espetáculo de Revista à Portuguesa. Ele e a mulher, a inevitável e queridíssima Margarida. Na semana passada telefonou a convidar-me para a récita: - O Barreiros não quer vir assistir à minha interpretação de um fado do Carlos do Carmo? Um fado genérico, já se vê. A terminologia dos nossos muitos anos de trabalho mantem-se n

Uma cadeira na solidão…

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Quem pensa pela sua própria cabeça arrisca-se a sentar-se sozinho numa cadeira com aspeto desprezível, à esquina de uma velha rua onde todas as casas ruíram por força da solidão. Sem o confortável “chapéu-de-chuva” da multidão onde se dilui a identidade, ficaremos por ali sujeitos ao dedo feroz e acusador das intempéries, e de todas as agruras do tempo e das más vontades. Nos tempos que correm, eu não compreendo os “democratas” que dividem o mundo entre eles e a estupidez, provando que Santa Comba Dão é demasiado próxima da Sibéria e de Pequim. Também tenho alguma dificuldade em compreender aqueles que veem a vida à luz de uma história onde se confrontam os bons e os maus, com as fronteiras dessa classificação a serem definidas pelas convicções partidárias, as religiões, o estatuto social, o género… ou quaisquer outros humanos agrupamentos. Confesso que também não tenho muita paciência para a gente ao estilo “Bola de Berlim com recheio de caviar”. Concentrados no elevado