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A mostrar mensagens de fevereiro, 2011

Sementes de Esperança

A minha amiga Zinha Duarte cumpriu hoje o 45º aniversário. Dos meus amigos, tal como eu nascidos em 1966, foi a primeira a fazê-lo. Até ao final do ano, todos a acompanharemos. Na vertigem do tempo, quase não nos demos conta da rapidez com que chegámos a meio da década dos quarenta. Vivemos sempre com muita intensidade e nunca virando a cara à acção e sempre dispostos a pagar o preço inerente às decisões, mas tal não impede este sentimento de admiração por hoje estarmos aqui quando ainda ontem vivíamos a segunda década das nossas vidas, algures pelos anos setenta e oitenta do século vinte, na pacatez da nossa Vila Viçosa, uma terra então mais fechada ao mundo e sobre si própria, mas que por ser assim nos proporcionava encontros mais profundos connosco próprios e com todos os que nos rodeavam. Tínhamos sempre tempo e espaço para ir mais a fundo em tudo o que fazíamos, sobrava-nos sempre a disponibilidade para conversar, vivíamos no conforto de nunca estar sós. Era o tempo em que se sabo

Expresso 2000

Foi hoje publicada a edição 2000 do jornal Expresso, meu habitual e indispensável companheiro nas manhãs de sábado. Comecei a ler o Expresso por alturas de 1984/1985 quando entrei na Faculdade. Pela popularidade entre os estudantes, os porteiros da Cantina Nova, na Avenida das Forças Armadas, improvisavam todos os sábados ao almoço, uma venda de Expressos, e todos nós acompanhávamos a refeição “fantástica” de fim-de-semana, com as notícias do jornal que nessa mesma altura começou a ser dirigido por José António Saraiva. E as notícias de primeira página, os destaques, eram mote para a conversa numa das poucas refeições semanais em que não tínhamos pressa e podíamos calmamente conviver com os colegas. Mesmo quando havia cinema na parte da tarde, o Quarteto era mesmo ali ao lado, a cinco minutos de passo apressado, não estando assim comprometida a tertúlia dos imigrantes, dos que tínhamos a família a centenas de quilómetros e que nos colegas íamos construindo uma família alternativa. Semp

Feios, porcos e maus… à Portuguesa!

Na Baixa da Banheira, ali para a margem sul do Tejo, há uma vivenda Esmeralda, onde vive uma mulher cujo nome permitiu baptizar a vivenda, casada com um despedido da Lisnave que passa os dias de pijama a ver qual a melhor forma de roubar a Sport TV à parabólica do vizinho, que tem uma sogra viciada em drogas e que as cultiva no quintal, um filho homossexual mas que engravida uma Brasileira, um outro filho alérgico a banhos e também viciado em drogas, e uma filha à beira dos 18 anos, cuja maior ambição profissional é poder despir-se para uma web cam, revelando os seios aos velhos americanos que lhe alimentam a conta bancária com os irresistíveis dólares. Poderia ser real, mas não é. É uma peça de teatro chamada “Mais respeito que sou tua mãe”, com um grupo de excelentes actores, entre os quais Joaquim Monchique numa interpretação excepcional da doméstica Esmeralda, a trave mestra desta família disfuncional mas nada irreal nos dias que correm. A ida à Casa do Artista garante duas horas d

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O Discurso do Rei

Com o título original de “The King’s Speech”, trata-se de um filme de Tom Hooper que carrega a marca assinalável de 12 nomeações para os Óscares deste ano, entre as quais a de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor Principal (Colin Firth), Melhor Actor Secundário (Geoffrey Rush) e Melhor Actriz Secundária (Helena Bonham Cárter). Foi talvez esta perspectiva de vitória na noite de Hollywood do próximo dia 27 de Fevereiro que motivou a minha escolha na última ida ao cinema. E o filme superou as minhas maiores expectativas. Trata-se efectivamente e em minha opinião, de um filme excelente, daqueles para ver, rever, um filme dos que permanecem para sempre na nossa memória. O argumento centra-se na conturbada sucessão do rei Jorge V de Inglaterra, quando às portas da segunda guerra mundial, uma americana divorciada faz Eduardo VIII abdicar do trono em favor do seu irmão, o rei Jorge VI, pai da actual monarca, Isabel II. Tímido, inseguro e afectado de uma terrível gaguez, a Jorge VI nun

Muitos anos de solidão

As notícias desta semana deram um destaque especial ao ocorrido com uma idosa que residia em Rio de Mouro, concelho de Sintra, encontrada morta no chão da cozinha da sua casa, após ter estado nove anos desaparecida. Não tinha nenhum familiar e por companhia tinha um cão, encontrado morto na varanda da casa. Só a solidão no seu limite superior possibilita que uma pessoa morra em 2002 e que ninguém dê conta da sua ausência, até 2011. Esta é a prova de que mesmo vivendo rodeados de milhões de pessoas, vivemos quantas vezes na maior solidão, habitando “andares-gaveta” de prédios gigantes, gavetas onde estamos arrumados e acompanhados apenas por animais de estimação e por nós próprios. No entanto, e não sei se isto dará algum conforto, há sempre quem nunca se esqueça de nós, e só isso possibilitou a descoberta desta senhora já cadáver há nove anos: as finanças. Por incumprimento dos deveres fiscais, a casa foi leiloada, e foi o novo proprietário que ao tomar posse da sua nova casa, se depar

Sou do Fado

Entrei no mundo do fado por acaso no início dos anos noventa, e logo pela porta maior. Ao ir trocar um CD à megastore da Valentim de Carvalho, no Rossio, e porque o CD que ia trocar tinha um preço mais elevado, fui forçado a escolher algo mais que equilibrasse a troca. O valor era próximo do de uma cassete áudio, uma peça que nos era muito útil porque em viagem, nos nossos auto-rádios, constituíam as únicas alternativas às estações emissoras. Talvez por estar na Valentim de Carvalho, eram inúmeras as cassetes de Amália Rodrigues, e a minha escolha acabou por ir para uma delas. Nunca me tinha debruçado muito sobre a obra de Amália, e a curiosidade levou-me a colocá-la como companhia nas minhas viagens mais próximas. De tantas, é impossível dizer-vos quantas vezes ouvi a cassete de Amália. Fiquei preso à sua voz enorme, às voltas e reviravoltas que essa voz, inspirada e embalada pelo som inigualável da guitarra portuguesa, cantava os sentimentos expressos nas palavras dos poetas, esses e