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A mostrar mensagens de março, 2021

Cara a cara com o sol...

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Existem madrugadas em que o tempo avança só para ficarmos mais perto do verão, e cara a cara com o sol. Parece cumprir-se, dessa forma, aquela perceção quase universal, de que o tempo tem asas. Mas terá mesmo? Andamos há um ano a reciclar essa ideia, estacionados aqui, dolorosamente, nesta ilha sem abraços e de sorrisos amordaçados pelo pano, náufragos de tantas certezas, envoltos, agora, por nuvens de silêncio e de solidão. Numa praia aonde o tempo não anda, ao contrário de um tal Rt, tão irrequieto. Há alguns anos, sempre que dizíamos que o tempo voava, a minha avó, do alto da sua sabedoria simples, mas infalível, respondia-nos: - Desenganem-se. Eu conheço o tempo, de um outro tempo em que ceifávamos de sol a sol e recebíamos o ordenado no fim da jorna, aos sábados, e juro-vos que ele tem passo de caracol. Eu ficava a pensar nisso. O tempo, salvo estes “soluços” induzidos por mão humana, em março e outubro, beneficia do rigor da matemática, e tudo o resto são perceçõe

Quanto mais longe, maior se nos faz o beijo…

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  A saudade faz-se destes lugares e minutos agora vazios, coordenadas nascidas perfeitas, e vividas com gosto e intensidade, por nelas morarem os nossos beijos. Proteína de tanto daquilo que eu sou, percorro-os ao detalhe, muitas vezes só porque sim, e sempre, como quem não desiste de vasculhar a semana à procura do domingo, mesmo sabendo que ela já não o tem, nem voltará a ter. E o tempo, esse mesmo que dizem carregar em si mesmo, a lixivia de esquecer, tem o condão de nos levar ao detalhe mais microscópico dessa saudade, abandonando-nos ali, numa imensidão fria que estranhamos, e que nos faz doer. Mas já aprendi, e levo sempre comigo uma mão cheia de padres nossos e flores, que vou colocando, devagarinho, pouco a pouco, sobre esses lugares e esses momentos vazios, seguindo este ímpeto sagrado de jamais nos deixar morrer. Não quero que o vento que sopra, e que passa pelo tudo da história que é a nossa, leve para perto, ou para mais longe, ecos de muito pouco ou de quase nada.