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A mostrar mensagens de maio, 2019

Morto nos braços de si mesmo...

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Eu nasci para percorrer sozinho todas as cidades do mundo, e no silêncio, rua a rua, vou-me diluindo na imensidão do universo, até à dimensão ínfima que me permite cruzar e entender todos os castelos, até mesmo os da diferença que aparenta ser mais impenetrável e impossível. Em modo pequeno entra-se e entende-se melhor o coração dos outros. Cruzo as ruas de Lyon até à margem do rio Saône e à estátua de um homem que caminha transportando-se a si próprio, morto, nos seus braços. Eu nasci para percorrer sozinho todas as cidades do mundo, e no silêncio, vou sentindo o quanto de mim sobrevive e respira, sentindo ao mesmo tempo o peso daquilo que deixei morrer sem pranto e sem dor, quando me tornei indiferente ao espaço e ao tempo. Quem não se dilui na dimensão do universo, toma o “importante” estatuto de uma montanha de pedra que jamais saberá o que é o amor. E um homem sem amor é um homem que jaz nos braços de si mesmo, mesmo que ainda consiga caminhar.

Ser do Benfica...

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Ser do Benfica é viver esta festa de olharmos para cima, e repararmos que não há nada nem ninguém entre nós o céu. Corremos então num grito pela cidade, e às duas por três, parece até que o Tejo se vestiu de encarnado e pôs papoilas no cabelo para ir passear até ao Marquês. Somos feitos de povo e somos orgulhosamente povo. Os nossos pés moram em Carnide, num bairro de Lisboa, a capital, mas o Homem é do tamanho do horizonte onde a alma o leva, e nós, definitivamente, temos dimensão de infinito num corpo que é do tamanho de Portugal. Não importa quando nascemos, e se o fizemos antes ou depois de alguém, na nossa idade cabe o tempo todo, e no golo de um segundo apenas conseguimos sempre provar a eternidade. Sim, somos lampiões acendidos pela força de lutar, porque mesmo que nos roubem o dia ou a noite, nós reinventaremos sempre um sol e o luar. E sim, por mais que o nosso fado se enleie no devaneio de outras canções, voltaremos sempre à essência do sangue que nos percorr

Desabafos nas margens de um rio sossegado, com um copo de vinho na mão, e na companhia de um mês de maio que ainda ensaia a primavera…

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A prudência impõe telhados aos beijos, privando-os do céu e do luar. E os telhados, tal qual o chão firme, são os maiores obstáculos para quem ambiciona crescer para lá do presente de um qualquer instante. A vaidade impõe a aparência de capas sobre capas, para que, tal como acontece com as cebolas, alguém acabe a chorar perante o gosto amargo e pobre da essência real de que não cuidámos e que guardamos dentro. A cegueira ideológica, corporativa, religiosa, partidária... mais cedo ou mais tarde acaba por nos reciclar em autoclismos, com a heroicidade e a inteligência do pensamento a serem substituídas por descargas de água sobre os dejetos arremessados por comportamentos imbecis para os quais temos trancados os olhares e o sentido crítico. As operações plásticas disfarçam a idade, mas assaltam-nos a história, roubando-nos a possibilidade de nos rirmos com a vida e a cara toda. As injustiças provocam úlceras quando acumuladas no estômago, os joelhos em reverência, apoiados

Mãe

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Os bem mais de quarenta anos que separam estas duas fotos foram apenas um beijo com tanto de breve como de completo e intenso. Sim mãe, sob o sorriso cúmplice do pai, o tempo entre nós os três será sempre esse beijo, que apesar de ter a vida inteira, de tão perfeito sabe a breve. Nós somos feitos de ti na essência e na atitude, e alimentamo-nos do puro querer amniótico que persiste e extravasa o tempo escorrendo de todos os teus sentidos, das mãos, das palavras perfeitas... O parto cumpriu tão só o impulso de te olharmos de frente e podermos acariciar-te a face. Por muito que a idade nos persiga, contigo ao lado nós despimos os fatos e as cãs, regressando aos calções feitos do tecido que sobrava dos fatos do pai, para irmos a correr ter com os amigos e passarmos a tarde a brincar. Porque o teu amor será sempre a eternidade, e a eternidade é um beijo imenso e inteiro.   (Obrigado ao meu querido amigo José Manuel Marques pela excelente foto inspirada naquela que