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A mostrar mensagens de setembro, 2018

Viagens improváveis...

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Sigo imerso na leitura dos jornais e nos jogos de palavras e números, enquanto a carruagem rasga o estio subindo a norte. Só por alturas de Espinho reencontro o mar, deixando-me atrair pelo sol e permanecendo à tona, consciente, até cruzar o Douro e chegar ao Porto. Numa manhã de domingo e apenas com um livro e um jornal debaixo do braço, passageiro sozinho num comboio a transbordar de turistas e malas de viagem, eu vou ao encontro de um almoço perfeito de poetas e de uma tarde que poderá ser muito… ou quase nada. O senhor José aproximou-se da mesa pequena onde decorria a minha sessão de autógrafos na feira do livro do Porto, tem oitenta e dois anos e estava acompanhado pelo filho. Foi ali de propósito para encontrar o homem que escreve aquelas palavras que lê nas manhãs do Facebook . Não foi fácil encontrar-me, mas, finalmente, ali estávamos nós frente a frente por entre girassóis na lua e a promessa de um livro de poesia que será publicado em breve, e de um outro que segui

Viver...

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Viver é um compromisso de honestidade de mim para comigo, e tudo o mais são jogos de sombras. Gosto muito do mês de Setembro porque ele sempre me ensinou a renascer nos cadernos com folhas imaculadas, nos lápis por afiar e nas canetas de feltro ou nos guaches por abrir. Se um novo ano começa inevitavelmente em Janeiro, tenho sempre a sensação de que a vida nova que ele promete só se cumpre bem mais adiante, em Setembro. E cumpre-se nas palavras novas e nos desenhos conquistados aos diferentes saberes inscritos num horário que reinventa o tempo para nos tornar “sábios” no encalce de novas eras. O Outono é a minha estação preferida por entre o grito escarlate das romãs e o salto das castanhas, que abandonando o ouriço nos vêm contar histórias as serão. Dizem que o Outono nos deprime, apagando a luz intensa com que o verão nos beija. Talvez isso fosse verdade se o sol que importa não fosse coisa que vem de dentro e que espreita a rua pelo olhar, como se ele fosse um posti

A bordo da Terra...

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Entretido a brincar às escondidas com o sol, eu sou um rapaz que viaja a bordo da Terra, sempre em busca do universo. As estrelas são a gente que chega e que me abraça, deixando no espaço ao redor mim, e no pensamento, as histórias que me alimentam com a eficácia e o sabor do melhor pão de trigo. Na mochila, quando partem, levam palavras que não vêm nos dicionários, porque são escritas segundo a linguagem do vento, e são sinónimos imprevisíveis da liberdade.   A bordo da Terra, nós somos a varanda bonita e cheia de flores onde se cruzam milhares de rotas dessa tanta gente que como nós anda em busca do universo, astronautas informais na senda das estrelas e dos sonhos, sem outro mapa que não seja o da sua vontade. Talvez um dia eu adormeça, vergando-me ao cansaço, e então rogarei ao vento que me envolva na rama das árvores, na brisa salgada dos mares e no pó dos caminhos, tornando-me chão firme para quem vier em busca deste mesmo sonho que é o meu. Chão firme e quiçá um

A minha família é a casa onde poderei sempre andar descalço…

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A minha família é a casa onde poderei sempre andar descalço, porque nada magoa, em nada se tropeça, e nunca há o risco de escorregar e cair no chão. Com janelas de parapeitos altos e generosos, estão dispensados os telescópios e os binóculos na hora de sentir o céu e palpar todos os horizontes. Mas a minha família tem ameias e torreões fortes, ao jeito de um castelo imenso e transparente, não existindo, para mim, um melhor abrigo. Na minha família cultiva-se a fé, e foi lá que aprendi a rezar: - Menino Jesus vamo-nos deitar, esperanças em Deus que nos virá salvar. E ainda hoje, muito cedo pela manhã, eu escrevo versos de amor e liberdade enquanto a minha mãe percorre o terço. O sussurrado tom onde lhe perceciono as Ave Marias é como um vento que me beija e me levanta no ar, saindo para voar desde os parapeitos das altas janelas, algures entre a ousadia e a segurança. Na minha família, o amor, assim como tudo o mais que é importante, não precisa dizer-se sob a frustrant

Estas noites em que se acendem as luzes…

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Nas noites em que nos sentimos especiais, puxamos os luzeiros do céu para bem mais perto, acendendo as luzes desenhadas e garridas do arraial. Depois caminhamos de amigo em amigo, porque o coração calipolense centrífuga o universo, concentrando-nos numa praça com chão de terra, mas onde não há tempo para mastigar o pó que se levanta por entre os nossos pés. As bocas estão definitivamente empenhadas nas palavras, no riso, nos padres-nossos, nas farturas e na ginja, porque de tudo isto se compõe a vida nos seus dias mais preciosos. Jamais importará quem sobe ao palco para cantar, ou se a rifa já se modernizou e trocou uma garrafa de Anis Escarchado por uma bugiganga qualquer comprada nas lojas chinesas. Tão pouco importa se a banda que atua no coreto já puxou o pimba para o repertório... Nas noites dos amigos só eles importam e só eles nos fazem falta, na certeza de que ter uma terra é ter uma casa com paredes de afeto tecidas pelos olhares, e janelas generosas com vista

Eu sou corrupto e o Eusébio nunca existiu

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Eu, corrupto me confesso, sem pudor e sem qualquer laivo de arrependimento: o equipamento do Benfica que ofereci ao Fábio no natal do ano passado já foi o segundo, reforçando dessa forma o benfiquismo do filho dos meus amigos Manuel e Ana, que não se interessam absolutamente nada por futebol. É verdade, comprovada corrupção ativa, com a agravante de a praticar em prol de um clube de bairro, de base popular e de gente dita vulgar e adepta do garrafão de vinho. Eu também sei que o Benfica nunca existiu e que é a maior mentira de Portugal. Eu sei que todos os nossos títulos em todas as modalidades são injustos e são fruto de uma ilusão sustentada, entre outros, pelo ditador Salazar, que chegou ao ponto de inventar o Eusébio, uma espécie de Padrão dos Descobrimentos que sabia chutar com os dois pés. Eu sei tudo isso, mas quem poderá ir contra o meu coração? O amor será sempre irracional e talvez por isso, não tenho quaisquer dúvidas em confessar-vos que se algum juiz um di

Regressar à essência...

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Como explicar que entre o copo de gin , onde reluz uma imensa casca de laranja, e a lua cheia que se insinua à noite de Lisboa, o meu olhar reza quando encontra o teu? Como fazer entender que a “divindade” do corpo se prova neste estremecer em harmónio que lhe oferece um beijo de amor? Estranhamente, os Homens procuram a “Luz do mundo” nas caves mais escuras do universo, como se o martírio fosse o caminho mais eficaz e lógico para chegar a Quem nos ensinou a ressuscitar por entre as madrugadas. Veste-se a morte mesmo quando o coração nos grita vida, na renúncia de acreditar que o Céu não é o destino para quem morre e se “mata” assim, o Céu é hoje e aqui, porque Deus brilha no sorriso de quem está vivo e imprime ao corpo a mesma dimensão de vida que lhe mora na alma. E quem vive nas cavernas tropeça na sua própria cegueira, no proibido e no perverso, sem temer nada porque nada se vê. Muito se tem falado ultimamente de pedofilia na Igreja Católica envolvendo às vezes perver