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A mostrar mensagens de agosto, 2018

As rugas e a lua cheia...

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Por instantes pensei que o passeio de Carlos da Maia e João da Ega ardera definitivamente com o Chiado, permanecendo apenas nas palavras escritas de Eça de Queiroz e nas memórias das tardes em que eu próprio imitara os heróis de “Os Maias” no meu trajeto muito pessoal entre a Bertrand e a Ferin. Perante o coração de uma Lisboa queimada era difícil imaginar que tudo voltaria a ser como antes, talvez porque facilmente nos esquecemos que os Homens, as árvores e as cidades são iguais na hora de se reinventaram, perfurando o chão das cinzas com a força de novas raízes e alicerces. Aproveitando a brisa do fim da tarde, ontem mesmo subi como quem voa pelos telhados de Lisboa, para espreitar a lua num terraço do Chiado. A lua brilhará sempre sobre todos os despojos do fogo, desmentindo que as cinzas sejam o destino de uma cidade... e dos Homens. As rugas são ruas que nos marcaram a face a ponto de dor, mas que se desmancham quando sorrimos com a mesma convicção da lua cheia.

Apontamentos de um jantar no Gerês…

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O fim da tarde oferece à sala de jantar a luz de Vermeer , mas um olhar mais atento sobre os gestos e os nossos olhares denuncia Visconti , cuja câmara não deverá andar muito longe dali. Todos nos cruzamos durante o dia entre a fonte de águas medicinais, as salas de leitura, o elevador, o café e a papelaria onde compramos os jornais. Aos poucos e por muito poucas palavras, vamos conhecendo a história de cada um. Os que somos reincidentes, já nos conhecemos dos verões passados. O Skype ligado num i-Pad na mesa ao lado da minha desmente as paredes, os gestos e a luz, trazendo a datação do repasto para o século corrente, tudo porque o casal na casa dos cinquenta não resiste a falar com a filha emigrada. Tanto da saudade mora nos lugares deixados vazios à mesa do jantar. Para além desta conversa que vamos escutando, mas sem prestarmos grande atenção, dos diálogos de cada mesa só emergem algumas frases nos instantes em que todas as outras se cruzam no silêncio. “Nós nunca bamos ber

Os dias de Agosto...

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Quando em criança me obrigavam a caminhar para um sítio desagradável, eu desejava que a rua se tornasse infinita, quiçá dando sete voltas ao planeta, para nunca mais lá chegar. Alinhado comigo, o meu irmão não conseguia adormecer na noite que antecedia uma saída agradável ou uma viagem. Ele a querer que o sono lhe encurtasse a noite, e nada de o conseguir. Por não querer nunca ver o fim ao tempo, não usei relógio durante a semana que passou, percorrendo sem pressa os dias que decorrem entre a primeira toma de água, algures quando o sol já beija a montanha em frente à janela do quarto, pelas 7.30 da manhã, e o adormecer, que é cedo e após algumas páginas acrescentadas à leitura de um livro. Durante o dia converso com os meus pais reencontrando velhas palavras do léxico Alentejano (pirrónico, escampar, muginar, aventar, marouvale), e pondo em ordem as histórias que ficaram por contar durante o ano nas nossas conversas telefónicas noturnas, por esquecimento ou falta de tempo.

A esquerda e a direita...

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Eu tenho amigos de esquerda que afirmam que a honestidade é um exclusivo da sua área política. Por acreditarem convictamente nesse pressuposto, alargam o conceito de honestidade até ao ponto em que não trabalhar e fazer vida de luxo à custa de amigos é a coisa mais natural do mundo. Mas eu também tenho amigos de direita que consideram que a guerra colonial foi uma oportunidade extraordinária para que uma geração de homens pudesse ir conhecer África, afirmando que as mortes ali ocorridas, em número desprezível, foram consequência de acidentes de viação. Uns e outros defendem cegamente as suas damas até à exaustão, não se dando conta da linha do ridículo que às vezes pisam de forma descarada, aplicando-se em duelos que eu até poderia considerar ideológicos se tivessem por raiz algum ideal por entre a teimosia. Como pude observar ao longo da semana que passou, estes conflitos bacocos situam-se ao nível dos “Jogos sem Fronteiras”, trazendo a glória por um instante mas não deixando n