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A mostrar mensagens de janeiro, 2019

O Homem é um coração…

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O Homem é um coração, e tudo o mais é cor para animar a festa de estarmos juntos, sabendo que quanto maior a diversidade, melhor e maior será a festa. Existiu um tempo em que acreditei que esta lição estava aprendida: vi a gente saltar sobre os restos do muro de Berlim, comovi-me num domingo à tarde, quando Nelson Mandela saiu da prisão, ouvi e bebi as palavras roucas de Sousa Tavares numa esquina do Carmo, agarrado a um megafone, a falar de povo e liberdade. Mas hoje, pelo que se diz e pelo que se escreve, sendo reflexo daquilo que se pensa e que se sente... Será o tempo que insiste sempre em voltar para trás, ou seremos nós que estamos viciados no ódio e desprezamos as duras lições da dor? Parece que basta um clique, e logo acorremos a esgrimir argumentos que ferem como espadas, porque nunca nada se construirá sobre o ódio, ficando apenas o deserto da terra e dos corpos queimados. Desamarrem as palavras de Cristo e dos profetas de todas as religiões do universo, disp

Breve manual para os dias de chuva

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Mesmo quando o dia insiste, e nos rouba o céu, nós pintamos as casas de azul ou de amarelo, garantindo que não nos faltará o sol. Dispensamos a serventia das portas e das janelas, porque nos livros empoeirados da biblioteca da memória, temos guardados milhões de avionetas e naves espaciais   que nos levam para longe, ou para mais perto, sem sair do sofá, mesmo quando a chuva parece querer distrair-nos soando forte no seu encontro com as vidraças. São livros editados e reeditados pelo tanto que já fomos, ou sebentas alinhadas à pressa, com o muito que queremos ser. Depois, talvez pousemos as palavras escritas, deixando no entanto, que os discos continuem a encher a sala com as músicas que trouxemos da história, às vezes presas apenas por um assobio. Eu serei sempre este recanto enfeitado de conchas e de alecrim, um detalhe situado entre tudo aquilo que já “li” e as palavras onde corre o meu sangue, rimas alinhadas nas letras das minhas novas canções. Mesmo quando o dia

Cinquenta anos...

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Ao contrário daquilo que alguns intelectuais da moda andam por aí a afirmar, não conheço nenhuma mulher que tenha ficado mais feia depois de cumprir cinquenta anos, muito pelo contrário, todas elas, tal qual os homens, ficam infinitamente mais bonitas. Poderia acontecer que esta minha constatação fosse de natureza filosófica, excluindo a componente física e mais visível do assunto, mas nem é o caso, até porque são ténues as fronteiras que carregamos connosco, e se é verdade que “quem vê caras não vê corações”, já o inverso não se verifica, porque quem vê corações consegue ver caras. E se os corações forem grandes, as caras serão invariavelmente bonitas. Concordo que os cinquenta anos trazem muitas mudanças, mas sempre de encontro ao melhor da vida. Permitam-me que enuncie algumas: 1. Já não damos tempo ao tempo, porque o tempo que temos nos faz imensa falta para o tanto que queremos navegar; 2. Se os salmonetes forem frescos e acabados de pescar, que importa se vêm embrulhados

O ar desenhado pelos pássaros...

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Só nos lembramos do ar quando algo ou alguém nos asfixia, interrompendo bruscamente o ato tão natural, e quase desapercebido, de respirar. No mesmo sentido, há gente que não se dá conta de estar a usufruir dos benefícios da liberdade, mesmo quando, pela sua inexplicável verborreia, atenta contra ela em nome da fantasmagórica autoridade do tempo em que os casacos dos homens eram todos, obrigatoriamente, a preto e branco. Também os amigos que se entretêm a pendurar palavras e gestos feios no fio de afeto que os une, só se darão conta daquilo que perderam quando essa linha ceder ao peso e se cortar, devolvendo a alma à solidão. Sempre que estou em Vila Viçosa a passar uns dias com os meus pais, como aconteceu neste período entre o Natal e o Ano Novo, eu sinto de forma muito marcada, que estou a usufruir do ar melhor do universo, e, sentados os três à conversa no serão junto à braseira, eu tenho uma claríssima noção do ouro valiosíssimo e escasso que impregnam esses instantes de