Breves átomos de eternidade
As memórias são antídotos do deserto E as memórias na genética do amor são rios de água fresca, que, muito generosamente, “ateiam” as raizes das rosas, dissimilando-lhes o perfume, e denunciando-as em sorrisos à superfície do tempo. Tal qual as memórias com núcleo na fé, e na perspetiva de Deus, dissolvem a distância desde aqui ao Céu, tornando-se átomos, ainda que muito breves, de eternidade. Faz hoje dois anos que a vida me pediu a missão mais difícil: viver sem te ter aqui, ao alcance de um abraço… ou até de uma gargalhada. Reinventar-me, em ser e ânimo, aproveitando para oferecer novas formas às jazidas de saudade que compõem o deserto. Pela sede dos olhos, buscar as embaixadas do céu que se preservam no coração. E de tudo, e sobretudo, das memórias, fazer-me barco, água e rota de boa esperança, ousando dizer-me em versos toscos que anunciam um suave amanhecer. Porque quem ama suplanta a morte, erguendo-se com todos os seus, até aos umbrais das cidades mais ousadas do futuro.