Crescer sem “matar” a Cinderela…
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A Maria (chamemos-lhe assim) era minha companheira na Escola Primária de Vila Viçosa, e acreditava que os reis e as rainhas eram seres tão especiais que nem tinham de urinar ou defecar. Sempre que a contrariávamos, chamando à liça as grandes panelas de cobre existentes na cozinha do Paço, e o óbvio prenúncio da imensa quantidade de comida ingerida pelas reais criaturas, e que seria objeto de um processo digestivo, ela defendia-se dizendo que ao visitar o famoso Paço tinha visto todos os humanos e normais recantos, à exceção de casas de banho. Estávamos no início dos anos setenta, tínhamos seis ou sete anos, e era tão fácil acreditar nas lendas e nas histórias que os avós nos contavam ao serão, e que, despudoradamente nos treinavam na arte de misturar a realidade com a mais inusitada ficção. Nesse tempo desconhecíamos o impossível, e ainda nem sequer desconfiávamos das dores implícitas ao crescimento. Talvez só ali pelos catorze anos, nos tenhamos começado a aperceber de tal....