A liberdade
À pergunta sobre onde me encontrava no dia 25 de abril de 1974, responderei que na Escola Masculina de Vila Viçosa. Com quase oito anos e a frequentar a segunda classe, terei por certo feito um ditado ou uma cópia socorrendo-me de algum dos textos do livro único por onde todos aprendíamos. O mesmo livro de há muitos anos, onde todos os homens eram honrados e pobres, as mulheres domésticas de avental, e os rapazes e as raparigas, cada um para seu lado, éramos limpinhos apesar dos remendos na farda. Liberdade? Não entendi então, e com clareza, sobre o tanto que aquela palavra se ouvia numa quinta-feira que amanhecera húmida e algo fria, para um tão avançado abril. Entendi mais parte o valor da palavra e do conceito, à medida que fui crescendo sem deixar de poder ser eu. Tinha muito boas notas, era dos melhores alunos da turma, e era um génio, não por sê-lo de verdade, mas porque muito pouco haveria de esperar do filho de uma modista e de um barbeiro. Ainda se um dos meu...