O MUNDO MAIS BONITO E CONFORTÁVEL NUM TEMPO A CHEIRAR A FLORES
Quando na tarde quente de 26 de julho chegaram a nossa casa, em Vila Viçosa, vindos do México, a Edith, a Fanny, o Hector, a Mónica, o Roberto, e a Valéria, talvez eu não tivesse ainda apreendido, apesar dos meus 57 anos, que não existem estranhos, para quem vive no mesmo Padre Nosso, e respira o ar da mesma fé.
Galgando o tempo todo, e a
maior imensidão dos espaços.
Não me recordo, por exemplo,
das primeiras palavras que trocámos, no carro, entre malas e o sol de quase
quarenta graus, porque afinal, pelo coração, já nos conhecíamos de há muito
mais de mil anos.
Depois, rezámos muito,
rimo-nos sem freio, fizemos duetos entre Amália e Chavela, ou Luís Miguel e
Mariza.
Combinámos Cocadas com Pastéis
de Nata, Ginjinha com Margueritas, Migas Alentejanas com Guacamole, e
conversámos, conversámos… trazendo ao presente as histórias, as lendas, as
famílias, numa enorme planície de encontros, e já despidos daquela percepção
que nos vê a nós, Europeus, como frios e demasiado “importantes”, e aos irmãos
de para lá do mar, como apenas portadores de garridos “sombreros” cantando a “Cucaracha”.
Ficámos família, e eu o pai
deles todos, comentando, entre nós, após a sua partida para Lisboa, na manhã do
dia 31, que o Papa Francisco ainda não chegara, mas que a JMJ23 já tinha valido,
e muito, a pena.
Mas o Papa chegou, e nós
fomo-nos mantendo unidos no grupo de Watsapp que eles próprios criaram, e que
se chama “Família Vila Viçosa”.
E claro, fomos comentando que
a Igreja é para todos, que ela não tem portas com segredo, e nela não cabe a
sobranceria moral dos donos das sacristias. Concordámos, que o amor de Jesus é
infinito e gratuito, que há uma onda de amor que deveremos ganhar, e que até o
silêncio está pejado da melhor poesia do universo.
Tudo isso, à medida que Lisboa
se cumpria como a “cidade navio” de Cardoso Pires, capaz de abraçar o mundo
inteiro, mas sempre em íntima relação com o Céu que não se lê no astrolábio,
mas nos evangelhos.
Num Estado laico, mas em que a
maioria dos contribuintes professa a fé católica, numa Igreja com “pecados”, e
até alguns bem feios, mas que tem liderança e energia para os expurgar, numa
Igreja que caminha para a inclusão de todas as “diferenças”, porque só assim se
cumpre o coração.
E Deus é, afinal, o bálsamo
que esvazia a distância e a pressa, “sentando-nos” em festa no mesmo tempo e no
mesmo espaço.
Quando se rezava o terço em
Fátima, com o Papa, e no terceiro mistério, uma rapariga, em Italiano, me
demonstrou que a forma nada importa, quando a linguagem é pura, perfeita e da
alma, eu tive a certeza que rezaria com ela um rosário inteiro, nem que cada
Ave Maria por si pronunciada pudesse “tardar” uma hora.
Ou então nós, aqui, em Vila
Viçosa, um oceano aquém da terra, também quente, dos nossos filhos Mexicanos,
aprendendo que o nosso abraço tinha uma e outra mão de Jesus, algures sobre um
imenso mar, onde as ondas são inequivos impulsos de amor.
E ainda que o
sol pareça esconder-se de um ou de outro lado, nós, Calipolenses e Mexicanos,
estaremos sempre acordados no coração de quem já “surfou” a madrugada.
A JMJ 2023,
ou os dias que converteram o mundo num lugar mais bonito, confortável e à nossa
medida, num tempo que, inequivocamente, teve o aroma de todas as flores.
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