A árvore que namora com a serra
Na
auto-estrada um, no sentido Lisboa Porto, do lado esquerdo e quase a chegar ao
nó de Torres Novas, há uma árvore “empoleirada” no cimo de um pequeno monte,
que há anos namora com a Serra D’Aire e Candeeiros, ali mesmo em frente. Sempre
que a primavera escreve versos de urze e giesta, pela encosta acima, ela
responde ao cortejar da serra, cobrindo de verde a sua paixão. Chorará depois, bem
mais tarde, e folha a folha, quando Dezembro lhe desmanchar definitivamente a
esperança de que seria este o ano que lhes “mataria” a distância.
Gosto
de entender a linguagem das árvores, sentir o seu abraço distendido e honesto
às horas que passam, e prometi a mim mesmo que um dia escreveria sobre este
amor tão grande, mas tão impossível quanto o do sol pelo luar, ou o do norte
pelo sul no contexto de uma qualquer hipotética, mas irresistível, atração
polar. Mas talvez um dia o vento sopre de um modo tão forte, que a árvore e a raiz possam voar finalmente sobre a auto-estrada, entregando-se no beijo que a sua seiva vai sonhando, ano após ano.
Rasga-se e perde-se a terra do nosso conforto, destrói-se a pose imperial, e, dirão alguns que foi tudo uma imensa tragédia, vendo os seus troncos e folhas pousados sobre os parágrafos de urze e giesta.
Às vezes, aquilo que se vê tem tão pouco do muito que se sente.
A linguagem das árvores é igual à dos Homens, em tudo, e também na vontade que desenha estes instantes de condor, antídotos da distância e da solidão.
(Agradeço a
foto ao meu amigo Fábio Almas. Os dias nascem e morrem mas o sol insiste em
fazer-nos acreditar.)
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