O essencial é a liberdade...
O caminho
que trouxemos desde o pranto até à liberdade está pejado do ferro oxidado das
algemas que nos prendiam as mãos e os pés, e ainda guarda o cheiro fétido dos
cadáveres da gente morta a tiro de opressão, gente mártir mas enorme, de quem a
alma voou atando-se à nossa por um nó ousado e rebelde de marinheiro.
Passaram
muitos anos, e talvez o vento tenha arrastado terra, e a chuva tenha plantado
ervas e flores sobre esses despojos dolorosos, oferecendo-lhe uma enganadora
face de paraíso. Mas eu não quero e não irei voltar a pisar esse caminho.
Aqui onde moramos temos janelas que trazem a brisa do mar, temos o canto livre dos poetas e, por mais desarrumada e suja que esteja esta rua onde moramos, ninguém nos obriga a negar o sangue e o amor que trazemos na alma.
Sim, essa mesma alma que atámos pelo sonho à alma dos heróis.
Poderemos varrer esta rua com ramos de giesta, criaremos novas flores para os vasos das janelas, convocaremos os cantores, os artistas, reinventar-nos-emos em cada dia que nos derem, mas por favor não nos despejem nunca da casa da nossa liberdade.
Há quem esteja a vender a ideia de que a única forma de tratar um arranhão num dedo é fazer a amputação do braço, e há quem acredite e se deixe levar por aí.
São tempos movediços e eu temo pelo regresso do mundo aos becos da dor, da mordaça e do pranto.
Que emerjam as diferenças, que se discutem de forma aberta e honesta, mas que o essencial nunca deixe de ser a liberdade.
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