Três apontamentos que colhi deste advento…


De tão intensa, esta dor, alguém jamais ousará dar-lhe um nome.
À saída da missa de domingo, em Vila Viçosa, cruza-se comigo a mãe de um amigo que partiu há algum tempo. Traz no rosto aquele jeito de quem chora mesmo sem chorar, e na mão uma rosa branca do andor da Senhora da Conceição, que na véspera tinha saído em procissão.
Entre o Céu e a Terra, ou mesmo só por aqui, todas as mães falam a linguagem das rosas, porque o amor supremo, tal qual a dor onde os seus beijos morrem, jamais conseguirá dizer-se.
 

Estou com um grupo de colegas no parque onde se insere a nossa empresa e vendemos livros para ajudar a associação Cais.
Se interpelamos alguém dizendo que estamos em nome desta associação, pedindo uns segundos de atenção, uma em cada dez pessoas param para nos ouvir.
Se optamos por dizer que somos colegas de uma das empresas do parque, e que estamos ali para ajudar a Cais, param em média seis pessoas em cada dez.
Há uma surdez seletiva que elimina a mensagem de quem tem fome e privilegia, escutando, os seus pares.
Os sem-abrigo da cidade estarão destinados à indiferença que os torna dolorosamente transparentes, vagabundos solitários no meio de uma multidão.
 

Permitam-me que manifeste a minha absoluta intolerância para com as pessoas que não conseguem fixar-se em nada para lá do lado “negro” da vida.
- "Tomara o Natal passado. Não aguento o stress das compras, o bacalhau para comprar, escolher as batatas para fritar em modo palha, o peru é nojento, tanta gente lá em casa"...
Poderemos sempre ver a vida de dois modos: uma festa ou uma batalha.
Na primeira opção, aquela em que a dor dos calos nem se sente por entre a alegria de bailar, vive-se, dando real uso à cara, que foi feita para que possamos sorrir.
Na segunda apenas se sobrevive, arrastando-nos pelo tempo até à morte.

 

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