As rosas… tal qual a vida
Aos sábados e
domingos de manhã, um pouco antes da missa, gosto de visitar o túmulo do meu
pai. Não o faço por qualquer traição ao Céu, se é aqui, nesta terra vermelha do
barro de Vila Viçosa, que permanece adormecido o colo, assim como os beijos,
dos meus tantos instantes de Céu.
Faço-o por fé e
fidelidade.
Nestas alturas
gosto de trazer uma flor que tenhamos num dos vasos da varanda, sem qualquer
pretensão, às vezes até muito pequena, mas colhida entre mim e a minha mãe, um
pouco antes de eu sair de casa.
No fim de
semana passado não conseguimos ver aberto um muito promissor botão de rosa, que
na manhã de segunda-feira nos brindou, finalmente, com todo o seu esplendor.
Como na vida
poderá faltar tempo para tudo, mas nunca para cumprir os mais simples detalhes
de amor, colhemos o botão, e, de saída para Lisboa, fiz um desvio e fui colocá-lo
no túmulo do meu pai.
Ainda que por
entre uma Ave Maria com pouco fôlego, mas aquilo que se diz, e o modo como se
diz, perde sempre para o tanto que se sente.
Na manhã deste
sábado, sem nada mais do que um ramo de manjerico já florido, do vaso da nossa
varanda, voltei ao cemitério, e coloquei-o no lugar do botão da rosa que ali
permanecia, resistindo à chuva, à trovoada e ao calor.
Trouxe-a para a
colocar entre as folhas de alguns versos.
Perdoar-me-ão
por estar a contar-vos a breve história de uma flor que morou no cemitério,
ainda para mais, muito pequena, mas achei interessante fazê-lo pela cumplicidade
que existe entre a vida e as rosas.
Nos parapeitos
das varandas da vida, aquelas onde habitualmente nos debruçamos à espera do
amanhecer, as rosas acabarão sempre por florir, ainda que o seu tempo pareça ter-se
desencontrado com o nosso.
E as rosas que
perderam a cor, e que parecem mortas, fizeram-no para conseguirem ter espaço
para guardar o tanto de amor e de história dos gestos que as moveram, que lhes
deram sentido, tornando-as eternas entre as páginas de uma nova poesia aonde o
Céu se sente e se pressente.
Tal qual a
vida.
Um bom fim de semana
e um abraço.
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