Paula
Foi ontem, domingo.
A missa de São Bartolomeu tinha terminado há pouco e à sombra da igreja que foi do Convento dos Jesuítas, o frio tinha a intensidade que faz doer, empurrando-nos para o conforto do Café Restauração para junto de uma bica quente.
Mas deixei-me ficar por ali mais um pouco. Estou entre a minha gente, os amigos, a família, muito do meu património afectivo que para sempre me fará dizer que Vila Viçosa é a minha casa.
Orgulhosamente, a melhor das casas.
Beijos, sorrisos, abraços, piadas, boletim clínico, novidades…
E o seu olhar triste.
A dor maior do universo, a morte da filha, matou-lhe definitivamente o sorriso.
Somos parentes e não apenas pelo facto de o sermos, eu gosto muito dela.
Durante anos vivemos próximos naquele espaço mágico e privilégio único dos Calipolenses, que é o Terreiro do Paço e a Ilha da Porta dos Nós, partilhando os trabalhos, as doenças, as alegrias, os carnavais e as demais festas, os estudos, os sucessos e os insucessos, no fundo, as vidas que sonhámos sempre transformar na mais pura felicidade.
Ela, da geração dos meus pais, e nós, eu e o meu irmão, e a filha dela, de uma geração mais nova e com mais asas para sonhar ainda mais alto.
O casamento, os estudos e os trabalhos, fizeram que um dia nos afastássemos todos em quilómetros, mas sem que nunca deixássemos de cuidar saber se tudo continuava a seguir o seu rumo normal.
Até que um dia chegou a notícia que contradiz a ordem natural que as coisas aparentam ter: a filha agonizava e preparava-se para partir.
Passei pelo hospital ali nas margens do Mondego e doeu-me saber que não havia esperança. E o desfecho inevitável cumpriu-se passadas horas.
Ontem, enquanto corria a brisa gelada do Alto da Praça, perante o seu olhar triste de luto e de vazio de mãe que a vida matou, falei-lhe de força e de quão importante é não desistir, sobretudo para nós, aqueles a quem foi dado o dom de carregarmos a fé.
Mas como soam sempre vãs as palavras, mesmo as mais oportunas, quando são ditas assim perante a dor imensa de alguém.
Porque neste Pomar as laranjas são feitas do sumo dos afectos, e sobretudo porque as palavras escritas têm o dom de se perpetuar, aqui fica uma mensagem definitiva de coragem e fé, inspirada na beleza do sorriso de um anjo que passou breve pelas nossas vidas, mas que jamais se apagará das nossas memórias: Paula.
A missa de São Bartolomeu tinha terminado há pouco e à sombra da igreja que foi do Convento dos Jesuítas, o frio tinha a intensidade que faz doer, empurrando-nos para o conforto do Café Restauração para junto de uma bica quente.
Mas deixei-me ficar por ali mais um pouco. Estou entre a minha gente, os amigos, a família, muito do meu património afectivo que para sempre me fará dizer que Vila Viçosa é a minha casa.
Orgulhosamente, a melhor das casas.
Beijos, sorrisos, abraços, piadas, boletim clínico, novidades…
E o seu olhar triste.
A dor maior do universo, a morte da filha, matou-lhe definitivamente o sorriso.
Somos parentes e não apenas pelo facto de o sermos, eu gosto muito dela.
Durante anos vivemos próximos naquele espaço mágico e privilégio único dos Calipolenses, que é o Terreiro do Paço e a Ilha da Porta dos Nós, partilhando os trabalhos, as doenças, as alegrias, os carnavais e as demais festas, os estudos, os sucessos e os insucessos, no fundo, as vidas que sonhámos sempre transformar na mais pura felicidade.
Ela, da geração dos meus pais, e nós, eu e o meu irmão, e a filha dela, de uma geração mais nova e com mais asas para sonhar ainda mais alto.
O casamento, os estudos e os trabalhos, fizeram que um dia nos afastássemos todos em quilómetros, mas sem que nunca deixássemos de cuidar saber se tudo continuava a seguir o seu rumo normal.
Até que um dia chegou a notícia que contradiz a ordem natural que as coisas aparentam ter: a filha agonizava e preparava-se para partir.
Passei pelo hospital ali nas margens do Mondego e doeu-me saber que não havia esperança. E o desfecho inevitável cumpriu-se passadas horas.
Ontem, enquanto corria a brisa gelada do Alto da Praça, perante o seu olhar triste de luto e de vazio de mãe que a vida matou, falei-lhe de força e de quão importante é não desistir, sobretudo para nós, aqueles a quem foi dado o dom de carregarmos a fé.
Mas como soam sempre vãs as palavras, mesmo as mais oportunas, quando são ditas assim perante a dor imensa de alguém.
Porque neste Pomar as laranjas são feitas do sumo dos afectos, e sobretudo porque as palavras escritas têm o dom de se perpetuar, aqui fica uma mensagem definitiva de coragem e fé, inspirada na beleza do sorriso de um anjo que passou breve pelas nossas vidas, mas que jamais se apagará das nossas memórias: Paula.
Há factos da vida que não precisam de comentários. :(
ResponderEliminarPara Sempre
ResponderEliminarPor que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
ZE RUI
Desde o início da humanidade, somos alertados quanto a possibilidade de perder os pais, irmãos ou amigos para a morte e sempre nos falam que diante desse infortúnio, temos de ser fortes, pois não há nada que se possa fazer.
ResponderEliminarMas na verdade, nunca estamos preparados quando acontece. A morte é a única certeza que qualquer ser vivo tem. Quando ocorre a morte de filho, o impacto é ainda maior, pois não se perde um ente querido, mas, um pedaço de si mesmo, que se vai sem volta, é um pedaço da alma que se parte em milhares de pedaços e nem o tempo, com sua sabedoria milenar, parece capaz de juntar e colar tais retalhos.
Mas, como o mundo não pára e o ciclo da vida continua, é preciso aos poucos juntar o que restou emendar, como puder e mesmo com as eternas feridas abertas, tentar seguir o caminho.
Até nos registros bíblicos, a morte é relatada de acordo com o ciclo natural: nascer, crescer, procriar, para só então morrer. E se isso acontece fora dos padrões, o sofrimento é ainda maior, como se o ocorrido fosse fora de hora, inaceitável.
Surgem sempre as perguntas; Se eu tivesse feito isso... Por quê? Quando a morte do filho é de acidente, é mais comum ainda, a família, principalmente os pais, se culparem por não conseguirem impedir a tragédia.
O desespero diante do inesperado é ilimitado e no caso das mães, muitas vezes, uma internação hospitalar, ou acompanhamento psicológico e tratamento medicamentoso se faz necessário.
O luto familiar nunca acaba, é para sempre, mas, como já foi dito antes, é preciso seguir em frente, reencontrar o eixo de apoio entre os membros familiares. É o momento da união, solidariedade, companheirismo e principalmente hora de se resgatar a fé. Sem fé em Deus, nada se consegue nesses momentos de angustia.
Seja qual for a forma de expressar essa fé, com certeza será válida. É preciso se conscientizar de que esse luto não acabará jamais, só mudará de intensidade, deixando que as outras coisas retomem aos poucos, seu lugar.
MENINO DO PANASCO