É hora de resistir
A terra onde brincámos e de onde o limoeiro tomou
alento e inspiração para namorar com o sol, guardará para sempre a memória dos
traços que lhe oferecemos quando usávamos o pedaço de um tronco ou de uma
pedra, para dar forma ao mundo que inventávamos.
No nosso sonho não cabiam fronteiras.
E a casa de tijoleira ao canto do bar da escola guarda
ainda o eco dessas tardes em que o pudor sucumbia perante a força dos sentidos,
deixando que andasse à solta, um jeito tão nosso e tão livre de falar de amor.
Saltávamos as convenções e jurávamos jamais deixar que
as fronteiras se interpusessem entre os nossos beijos.
Quaisquer fronteiras.
E o Deus que levávamos connosco para a margem das
ribeiras onde o poejo se espreguiçava de odores pelas manhãs do sul, era afinal
a expressão maior da vida e desse mesmo amor.
Um Deus lembrado em palavras e acariciado por Padre
Nossos, mas que jamais será bandeira de alguém ou de alguns, porque Ele é o
universo inteiro.
Acho que nunca nos passou pela ideia que o vento forte
regressaria, como descrito nos livros de História, para apagar os contornos que
tomávamos pela liberdade de tudo aquilo que ousávamos sonhar.
Também jamais pensámos que alguém nos traísse os
beijos, impondo-lhes regra de género, credo e cor; ou que alguém separasse Deus
do Seu projeto único de um eterno amor.
Homens de mão esquerda sobre a Bíblia e a mão direita à
solta a matar a liberdade e a trair a fé.
Oxalá a nossa fé persista e consiga galgar connosco
este tempo que rasga a terra com os alicerces dos muros e das fronteiras,
matando à fome a esperança... e os limoeiros.
É hora de resistir.
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