Os poetas sonham e tiram apontamentos…
Já há muito que os sinos de Viena assinalam a meia-noite,
e no quarto do hotel, com a cortina da janela não completamente corrida, eu
pressinto o verde no semáforo dos peões quando as luzes dos carros que
percorrem a Ringstrasse desistem por
momentos de riscar a parede em frente à secretária.
Recebi os golos do Benfica, escrevi e mandei os beijos
todos que o coração ditou, e entreguei-me finalmente à hora do poeta, o
silêncio sem pressa que se predispõe a ser tudo aquilo que eu quiser.
A hora dos sonhos em estado vígil, que não se apagam
nunca às mãos da madrugada e por capricho da memória; os sonhos que persistem.
Quantos dias habitam na noite dos poetas…
Amanhã será Carnaval e acender-se-ão luzes e máscaras
sobre o racional sentido dos dias. Irão impor-se gargalhadas que morrerão
depois amarfanhadas no terreiro onde as cinzas de quarta-feira se entregam ao
vento.
Como se a espontaneidade feliz morasse
obrigatoriamente no inverso daquilo que somos e tivesse o prazo de validade de
um modesto fim de semana prolongado.
Quando as luzes suspendem os traços na parede, há
Homens de todos os momentos que avançam pelo silêncio da noite cumprindo o seu
destino e tomando a cidade.
Sem máscaras e sempre a sorrir, enquanto os poetas
sonham e tiram apontamentos.
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