OS MENINOS QUE INVENTARAM A PRIMAVERA
Numa tarde de Março, mas com o tempo já a espreitar
Abril, os meninos e as meninas saíram juntos para o campo trazendo na mochila os
livros de histórias e um montão de lápis de cor.
O céu estava triste, fechado pelas nuvens enormes e
cinzentas, e o chão mantinha o tom castanho e seco sem flores que herdara do
fim do verão.
Chegados a uma clareira, os meninos pousaram as
mochilas e puxaram dos lápis, afiando todos os tons de azul, para poderem
pintar o céu, e os verdes para que a terra vestisse uma saia plissada dessa cor,
como é uso na primavera.
Mas nada, os lápis gastavam-se aos poucos, e tudo
permanecia na mesma cor.
Reparou então um menino, quando dava a mão a outro
para o ajudar com as pinturas, que as nuvens se iam rasgando, e o céu até já
conseguia espreitar. E quanto deu um abraço a outro menino, o céu já sorria
feliz, brilhando na cor do mar.
Uma menina que cantou e outra que se riu, repararam
que a voz e a gargalhada plantavam relva no chão de Outono, verde e grande,
salpicada de giesta, amarela e quase ouro; e assim, olhando as flores, o sol,
toda a gente tocou e sentiu.
Numa roda gigante entre abraços, cantigas e sorrisos,
os meninos aprenderam a pintar o campo da primavera. Na verdade, os dias bonitos
não se desenham a lápis de cor mas nascem da amizade.
E um pássaro que passava por ali lembrou-lhes ainda que
havia livros na mochila, histórias de sonhos e de magia, e que os meninos e as
meninas, não tendo asas, pelos sonhos conseguiriam voar.
Batendo as asas antes de rumar a sul, o pássaro lembrou
ainda, e mais uma vez, que o céu é de quem voa. E todos os dias se pintam de
azul.
Os alunos da Escola Básica da Mata, em Estremoz,
sugeriram na sexta-feira que eu escrevesse uma história inspirada neles. Uma
história que também falasse de magia e primavera.
Aqui está com um abraço.
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