As sombras na floresta
Na floresta, quando o sol se despede, ao entardecer,
levando com ele a bênção dos corvos, que lhe fazem sempre sete vénias,
persistem sombras negras e imunes à lua.
Os homens e as mulheres que por ali passam nesse instante,
recostam-se então como podem sobre a folhagem, adormecendo num pesadelo povoado
por medos e monstros nunca antes vistos, enquanto os relógios parecem desatar o
tempo numa vertigem até ao abismo.
Nesta agitação, valem-lhe os poetas, que são seres irmãos
da noite, e que colhem palavras das árvores mais altas, em poesia ou em prosa,
como bagas de cor vermelha com que enchem todos os seus abraços.
Um a um, entrelaçam o seu corpo com o das mulheres e
homens adormecidos, e a esperança acontece no despertar suave e no caminhar
dolente até às clareiras que brincam com o luar.
Nos últimos tempos, algumas pessoas muito próximas de
mim sentiram o pesadelo destas sombras feias, escrevendo-lhes eu estas palavras
para que não lhes falte nunca o abraço dos poetas.
Para vocês, aqui fica o entrelaçar amigo num abraço
cheio de morangos ou bagas encarnadas.
Neste recanto da floresta onde os medos não entram,
estamos juntos e confortavelmente sentados, preparados para em breve podermos
celebrar as novas e doces madrugadas.
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