As cidades falam de nós


Mais do que as linhas traçadas pelos arquitetos ou as pedras que o mestre pedreiro alinhou para lhes cumprir a forma e oferecer coerência, as cidades guardam, fiéis, a nossa história, sendo livros de memórias impressos a três dimensões, parágrafos resistentes ao tempo e ao fogo.
A toponímia cede lugar aos beijos que a alma inventou, as praças não têm estátuas ou fontes, guardando os olhares que condenaram a solidão ao cais da partida, e as pontes, sobre os rios ou as pequeníssimas ribeiras, são altares que preservam o culto dos abraços que nos fizeram mudar de vida.
As árvores conservam entre os frutos, as palavras que confidenciámos às suas sombras, as mesas são círculos de amigos à volta do café, das gargalhadas e da liberdade, e por muito que o sol o envolva de luz, persistirá dolorosamente triste, o chão que foi da nossa gente, e onde hoje apenas se pisa a saudade.
As cidades, mais do que tudo o que se regista numa foto tirada de manhã ou ao entardecer, guardam tudo de nós, sabendo que só o tempo tem esquinas, e não as ruas, esquinas “impostas” por nós na mudança que alimenta o tanto querer viver.
Por ti, eu jamais deixarei de cruzar o tempo, deixando à solta em todas as cidades, indícios bem marcados dos instantes em que, por um beijo, eu renasci.

 

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