Setembro despenteia o tempo…
Setembro
despenteia o tempo e as árvores, arrastando e prendendo folhas rubras e
amarelas na franja de todos os minutos.
Para
além disso, Setembro, calça-nos e fecha-nos os pés em sapatos, com os
atacadores a prenderem as memórias das tardes passadas no campo ou na imensidão
da areia que se enfeita com a espuma do mar.Dirá quem acordar agora de um sono profundo, que Setembro semeia sombras, projetando os troncos vazios sobre as fachadas das casas; como se o sol morresse definitivamente debaixo das folhas cansadas ou dentro da pele engraxada das botas que Setembro calçou...
Os troncos apenas repousam, saboreando o gosto da sua história, e tomando fôlego para destemidas primaveras. Os troncos são como braços esperando os beijos de outros desejados braços que vivem no condomínio do peito de quem amamos.
Entretido com o aroma doce de marmelos maduros, com a uva que tomou do céu, o sol, e os ouriços que soltarão as castanhas como quem nos beija o paladar, Setembro é esta casa confortável onde tudo aquilo que vivemos se senta e repousa numa sala de sofás em tom grená, com vista para o tempo novo que chegará em cada manhã.
Sofás em tom grená, do mesmo tom maduro da alma que se espreita no espreguiçar dolente de uma romã.
(Agradeço
a foto ao meu amigo Miguel Cebolas)
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