A vida é bela
Nestas manhãs de primavera tenho o aplauso dos pássaros, quando ainda
ensonado, abro as portadas de madeira da janela do quarto.
Nas manhãs, como em tudo na vida, o sol faz a diferença, e sempre para
melhor.
Quer falemos do astro rei, quer daquele outro que irradia pelo olhar ou
pelas palavras bonitas da gente que gosta de nos mimar.
Esta semana “desconfinei” um pouco mais, e que bem me soube o café matinal
tomado na pastelaria Tiborna, aqui bem perto de casa, em Vila Viçosa.
A máscara não nos esconde o sol, e eu acho até, que à semelhança do que
Roberto Benigni idealizou no filme “A vida é bela”, eu e os meus conterrâneos
resolvemos assumir que isto não é, afinal, uma guerra, mas antes um imenso jogo
entre uma espécie de cowboys, de mascarilha, que no final teremos vencer, por
arte e empenho, muito mais que engenho.
Não sei se é um modo de estar muito alentejano, mas às vezes parece-me que
sim, este de levar a vida pela positiva, e sempre a rir, sem que tal belisque a
responsabilidade que nos cabe.
“Muito riso e muito siso”, porque já que agimos devagar, sobra-nos tempo
para conciliar aquilo que os outros não conseguem.
Para além disso, o choro embacia a realidade, e cria ruido no espaço onde é
suposto emergir a mais doce poesia.
E aqui, na pastelaria, os mesmos que antes soltávamos os beijos, os abraços
e os apertos de mão, concentramos agora o sol no olhar, fazemo-lo sorrir e
brincamos por nos reencontrarmos já adultos, com esta possibilidade de
“mascarados”, termos tudo para vencer.
Quando abro as portadas de madeira da janela, sei como correu a noite,
porque durmo sintonizado no respirar do meu pai, no quarto ao lado.
Não sei como será o nosso dia em família, mas ouço o aplauso dos pássaros e
deixo-me sorrir, rezando, por acreditar no sol.
“Buongiorno principessa”, repito, como Benigni, numa saudação à vida, essa
princesa que nos desposa em cada ato simples de acordar.
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