Resistir
Há ruas nascidas para serem rios de abraços, e olhares, cúmplices de abrigos, que, sem reservas, e de forma gratuita, nos oferecem uma casa, com janelas, aonde possamos morar.
As palavras
correm com a generosidade fluida das fontes, e nós guardamo-las em cântaros de
barro, ao lado do mel, porque da mesma raiz nasceram para virem matar-nos a
fome e a sede.
Coabitam
elas, e o nosso saciado sossego, em poiais de laje, erigidos como altares no
recanto da casa de onde se avista a lareira, que se acende muito cedo, de
madrugada, com restos de azinho, e nos retira as dores ao mesmo tempo que nos
aquece o pão.
Em dias
eternos, em que nem a chuva consegue distrair-nos, e roubar-nos o sol.
Tentei ser
fiel à minha terra, Vila Viçosa, partilhando convosco o tanto que ela é para
nós.
Não
consegui, por pura insuficiência de jeito e inspiração.
Será muito
mais do que tudo isto.
E por este
tempo difícil em que as ruas quase secaram, os olhares se “enfeitam” de
interrogações, e as palavras, filtradas por máscaras tricotadas pela razão,
esgrimem argumentos com um vírus em prol da esperança...
Somos muito
mais do que meia dúzia de milhares de almas com assento em praças que nasceram
para ser coração e nascente de rios de abraços, somos a fé, no seu estado mais
puro, desenhando o sol sobre todos os instantes, tal qual o fazíamos sobre
folhas brancas de papel, quando ainda eramos crianças.
O tempo é
vulnerável, e tanto avança como recua, mas nós, muito mais valentes do que ele,
voltaremos em breve, iguais na génese, mas bem maiores e mais fortes, naquilo
que de nós se vê.
Há castelos
que nasceram sem outra qualquer razão, que não seja explicar a quem chega, esta
pedra e esta raça de que somos feitos: resistir.
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