Trago um vestido de linho do mesmo tom da lua, e aqui sentada num Rossio debruado de amoras, vou enfeitando o tempo…
Trago um vestido de linho do mesmo tom da lua, e aqui sentada num Rossio debruado de amoras, vou enfeitando o tempo… e tudo, com os segredos que guardo em mim com o sentido doce e grená dos bagos de uma romã. De vez em quando passa o inverno que emudece o horizonte. Ressuscitam pássaros pelas manhãs depois de Abril despertar a primavera. O verão queima a campina… Mas o Outono aproxima-nos das tangerinas mais doces que nos fazem trepar às árvores do pomar. Uma casa, um piano, um violino, as telas, as palavras… E as minhas mãos desenhando sobre o tempo… e tudo, uma rua. A minha rua. Com a tinta dos segredos que trago nas mãos. Grená. E eu que visto a eterna essência do linho. Do mesmo tom da lua. A minha querida amiga e pintora Ana Cravo cumpre hoje 50 anos. É a primeira do nosso mega grupo Calipolense de 1966. Pedi-lhe uma das suas pinturas, ela enviou esta e eu escrevi sobre ela. Tina, um beijo de parabéns.