A laca da D. Mariana Aurélio e todos os aromas
O mundo descoberto pelo desfrutar dos seus aromas.
Mais um ranking...
Desta vez os dez melhores "perfumes" que
nestes cinquenta anos foram registados pelo meu olfacto.
AS
LARANJEIRAS EM FLOR NAS RUAS DE VILA VIÇOSA
Por alturas da primavera, dispensam-se as jarras
enfeitando de flores os altares da minha terra, que em cada um dos seus muitos
largos tem sempre três igrejas.
A Páscoa celebra-se pelas ruas na ressurreição da
terra que agradece as bênçãos do sol.
O BAZAR DAS
ESPECIARIAS EM ISTAMBUL
Os olhos perdem-se na imensidão das cores enquanto nós
vamos tentando decifrar cada detalhe do aroma perfeito que nos abraça.
Em vão...
É o Oriente incessante a chamar por nós.
OS MORANGOS
MADUROS NO ROSSIO DE LISBOA
O verão chegara há pouco e trouxe com ele os
vendedores e uns triciclos carregados de morangos maduros vendidos ao quilo em
cartuxos de papel pardo, depois de terem sido pesados em grandes balanças de
metal.
Não resisto e compro sempre um quilo para levar para
casa, perfumando-a com verão da cidade mais bonita do mundo.
O PÃO QUENTE
POR ENTRE A ESTEVA
Em Vila Viçosa quando pela madrugada passávamos junto
aos fornos das padarias, o pão quente parecia apelar à manteiga,
"sorrindo" por entre o aroma da esteva seca que aguardava a hora de
reacender o forno.
O INCENSO NA
CATEDRAL DE ST. PATRICK EM NOVA IORQUE
A Quinta Avenida desce-se de forma muito entretida.
Miramo-nos ao espelho nas montras da Tiffanys,
entramos na mega loja da Disney, e com alguma sorte, aquela que eu já tive,
vemos o Wim Wenders parar o
descapotável num semáforo para que nós possamos atravessar na passadeira.
Depois, antes de atravessar a Avenida para o
Rockfeller Center ou para o MoMa, entramos na Catedral de St. Patrick.
Cheira a incenso para nos lembrar que a casa de Deus é
onde nós estivermos, no campo, como na avenida mais famosa do planeta.
OS LENÇÓIS
LAVADOS NO RIBEIRO
A Avó Chica levava os lençóis até ao ribeiro
esfregando-os na sua pedra favorita. Depois coravam e secavam ao sol entre os
ramos da giesta, da esteva e do rosmaninho.
O ferro quente ao passar por eles sobre a velha tábua
bem que tentava roubar-lhes o cheiro, mas este persistia embalando-nos durante
a noite.
AS MANHÃS
JUNTO AO MAR DE PORTUGAL
De Moledo a Vila Real de Santo António.
Os areais, as brumas, o bater das ondas, o sal, a
espuma, Sophia...
O mar de Portugal nas manhãs perfeitas nascidas para
sonhar.
A TERRA
MOLHADA
Diz-se pelo Alentejo que o cheiro da terra molhada dá
azar e é prenúncio de morte.
Nunca entendi.
Será sinal, isso sim, de fertilidade. E eu gosto.
OS
MANJERICOS DE SANTO ANTÓNIO
Cheira bem...
Aos milhares nas bancas da Praça da Figueira na noite
em que cheira a sardinhas em Alfama e em que Lisboa consegue ser ainda mais
Lisboa.
A LACA DA D.
MARIANA AURÉLIO
A minha mãe é a mulher mais bonita do mundo e eu sou
pródigo em arranjar pretextos para lhe dar um beijo.
Sempre que regressava do Salão de Cabeleireira da D.
Mariana Aurélio, o beijo acompanhava o pretexto de sentir o cheiro da laca.
A saudosa senhora punha-a num pequeno recipiente
redondo de vidro cuja tampa era de borracha, servindo ao mesmo tempo de
propulsor para o fixador de cabelo.
Ainda hoje dou um beijo e cheiro o cabelo, se estou
por perto quando a minha mãe regressa do cabeleireiro. Só o aroma não é igual.
Comentários
Enviar um comentário