Sou a soma aritmética de todos os beijos que quis dar…
A manhã traz sempre folhas brancas para cima da mesa,
e até um lápis pouco afiado que possa andar por ali, meio perdido, servirá para
podermos "escrever" a nossa história.
Março já levou a manhã ao cabeleireiro e enfeitou-a de
caracóis vermelhos, cor-de-rosa... do pantone das
camélias e outras flores, vestindo-lhe depois um traje de ervas com padrão de malmequeres, e
pendurando-lhe ao pescoço um cordão de giestas, de fazer inveja ao ouro.
Caíram os biombos de nuvens, secaram as lágrimas de
orvalho, e hoje aquilo que se vê de mim tem os contornos claros e definidos de
um beijo.
Se nos quiserem conhecer não peçam um retrato, mas
espreitem-nos dentro de um beijo que a alma pediu.
A nossa história somos nós e o tempo que nunca
envelhece; sou eu que às vezes me sinto velho, sentado por aí num dia qualquer.
Mas o tempo também é redondo e Março cheira sempre a
recomeço, quando paramos na berma de uma manhã, nos sentamos à mesa e pedimos
um café e uma água lisa, mas já fria.
Depois, o pensamento serve de afia, e entre o desejo e
a memória, lá conseguimos escrever, como quem sonha, um capítulo bonito da
nossa história que ainda estava por contar.
O que é que eu sou?
Mil palavras rabiscadas sobre uma folha branca para
dizer que sou a soma aritmética de todos os beijos que quis dar.
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