A amnésia é o A de Portugal…


Lado a lado com Pátria, Ousadia, Revolução, Trabalho, União, Genialidade e Liberdade, a Amnésia é, definitivamente o A de Portugal.
Será de há muito evidente tal constatação, que até D. João I, algures entre os séculos XIV e XV, recebeu como cognome “O de boa memória”, talvez por ter sido uma honrosa exceção.
Numa terra onde a vaidade se engraxa todos os dias pelo resgate claro, e aparentemente lúcido, das virtudes e feitos seletiva e estrategicamente lembrados e hiperbolizados até ao estatuto de heroicos, a amnésia cumpre a missão de degredo da incompetência e da ilicitude, para lá da função de “Deus me valha porque eu até nem tenho pressa”.
Sem o pudor, rasgado há muito em conjunto com os “mantos diáfanos da fantasia”, os políticos e gestores passam pelas comissões de inquérito aos negócios ruinosos da banca, não se recordando de nada que os possa comprometer, fazendo de cada “não me lembro”, uma faca de gume afilado até à dignidade dos contribuintes honestos.
É a amnésia como ilha e degredo no mar multicolor das vaidades.
E a amnésia como “Deus me valha...” sente-se nessa mais ou menos longa peregrinação dos políticos e gestores incompetentes até ao vil santuário de onde regressam com a bênção dos eleitores que, entretanto, lhes “perdoaram”, esquecendo todos os seus pecados.
Uma peregrinação feita de eventos, debates, programas de televisão, chalras e chás dançantes, onde beneficiam desse inefável estatuto de “Ex qualquer coisa”, onde estranhamente, o anterior título prevalece sobre todas as obras iníquas, entretanto expiadas pela... amnésia.
E no terreiro desta extraordinária romaria à Senhora da Demência, o “povo”, que sobrepõe a militância à ideologia, entretém-se nas quermesses e nos concursos em que “o meu partido tem menos autarcas corruptos do que o teu”, que é assim como uma espécie de caça ao Pokémon em que o prémio é um apartamento na Ericeira com vista de mar e todas as despesas pagas.
 

 

 

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