Renato


É meio dia em Barcelona e acabei de aterrar vindo de Lisboa. Em muitas visitas, esta é a primeira vez que encontro a cidade coberta por um manto denso de nuvens, e chove copiosamente.
Vá lá saber-se porque razão choram as cidades…
A foto acima publiquei-a há precisamente um ano, a 9 de junho de 2018, com um texto a que chamei “Quanto tempo existe no espaço de uma hora”, em que relatei a minha ida ao Teatro de Cascais para assistir a uma revista protagonizada pelos “Cascotas”, um grupo sénior onde o meu colega e amigo Renato Borges e a sua queridíssima mulher, a Margarida, tinham lugar de destaque.
Tirámos a foto no final do espetáculo.
Fomos colegas na Pfizer durante muitos anos, trabalhámos juntos em muitos e grandes projetos, visitámos muitas cidades, mas agora encontrávamo-nos quando eu publicava um livro ou existia algum evento especial, para além, é claro, das noites europeias no nosso Estádio da Luz.
O Renato estava algo fragilizado, o Benfica não entusiasmava, e por isso não nos encontrámos muitas vezes no último Outono, mas ele ligou-me, como sempre, por alturas do Natal, curiosamente no dia em que cumpria 70 anos.
Como era nosso hábito, enrolámos a conversa em algumas gargalhadas, e o Renato confidenciou-me que em 2019, na nova revista do seu grupo, me iria surpreender com a interpretação do “E depois do adeus”.
Fiquei à espera.
Quando lancei o meu livro mais recente, em abril, convidei-o, mas o Renato declinou simpaticamente o convite com um SMS, porque a saúde não andava lá muito bem.
É meio dia em Barcelona, acabei de aterrar vindo de Lisboa, ligo o telemóvel e a primeira mensagem que recebo diz-me que o Renato partiu e descansa em paz.
As cidades choram no dia em que o Céu transborda de riso e festa porque chegou alguém especial.
Agora entendo.
Ao mesmo tempo que finalmente consigo a mais plausível das razões para o Benfica ter sido campeão após uma recuperação histórica: o Renato merecia partir com o escudo de campeão na alma.
Fica um lugar vago na mesa onde me continuarei a sentar com o Manuel e a Raquel antes dos jogos da Liga dos Campeões, e ficará sempre na nossa memória a promessa do “E depois do adeus”, canção que cumpre mais uma vez o destino de senha dos imortais e da liberdade.
Até sempre amigo Renato. A sua memória nunca nos deixará sós, e quando falarmos de si haveremos de ter sempre uma história colorida que nos fará sorrir.

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