Berlim é afinal a própria vida…
Quem vir o autocarro a passar assim tão ligeiro desde
Oeste até à Unter der Linden poderá
facilmente enganar-se no "preço" que tem a liberdade.
Até o céu limpo e o vento que cobre de Outono o chão
do Tigarten parecem querer calar
esses dias em que o horizonte se esbatia em cinza, então rendido ao olhar que
de tão triste nos salgava a face.
E só o eco anónimo dos punhos doridos de tanto
acudirem à alma, nos lembra aqui que a liberdade tem o valor infinito da fé dos
Homens. E tem o “preço” de tantas vidas.
Berlim é afinal a própria vida.
Há muito que ruíram os muros onde viviam amordaçados
os nossos abraços, e as palavras que desenhamos agora em prosa sob as tílias
são as nossas, porque são o canto do peito embalado pela verdade.
O amor que cede e se rende à vergonha é o suicídio por
negação da própria vida.
Um Homem que esconde os seus beijos é um moribundo
mutilado cruzando a História.
Nada é tão nosso quanto o amor e a liberdade, e
enquanto cruzamos as ruas perdendo-nos algures entre o leste e o oeste, deixando-nos
acontecer; sabemos que mesmo que o olhar nos salgue a face, será porque a alma
se emocionou feliz num beijo, e não tem outra forma de o dizer.
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