“A única crítica é a gargalhada”
Há palavras
e gestos que ficam a dever a verdade ao coração, traindo-a de modo mais ou
menos declarado, por entre a construção de hipérboles com tanto de obsceno
quanto de ridículo.
Se um sinal
da cruz feito com a mão direita fosse garantia de trazer Deus, por dentro, no
peito, ou se o discurso da autoproclamada honestidade, com palavras caras, de
mil Euros, fosse garantia da prática dos bons princípios…
Da “velha
moral” permanece, arrastado pelo corso das virtudes, muito mais do que dos
vícios privados, o binómio dos bons e dos maus, sendo que, invariavelmente, o
herói é o próprio, envolto em todas as suas capas, rodeado pela multidão das
bestas incapazes de lhe reconhecerem o seu enorme valor.
Não existe
meio termo, e nestas narrativas, aonde a modéstia, juntamente com a verdade,
definha na solidão de um conjunto vazio, o juízo alheio e qualquer evidência são
desprovidos de valor, perante a solenidade de um humano decreto, de uma
sentença, invariavelmente subjetiva, ou até de uma abençoada prescrição.
E por mais
padrões que celebrem as descobertas, permaneceremos um pequeno Portugal por
termos trocado os desafiadores horizontes de Sagres pelas comodidades burguesas
de um qualquer Vale de Lobo, e por termos substituído Calecute por Paris, aqui
tão perto, traindo o escorbuto e as agruras da nau pela assepsia de um avião,
com o respetivo bilhete sempre pago em cash.
“Uma nação
só vive porque pensa”, afirmou Eça de Queirós, que ao mesmo tempo dizia: “A
poesia não se inventou para cantar o amor”.
Que emerja
algures o pensamento, lavado e enxuto, e que por sobre a agonia da ilusão de
qualquer rosa, consiga renascer um dia a poesia, que coabita, por ser família,
com a mais pura liberdade.
Num campo
inundado de primavera.
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