Este maio que tarda em amadurecer


É no silêncio que melhor se leem os pássaros, e que os glóbulos da ousadia, que oferecem coragem ao sangue da alma da gente, se inspiram para voar num ímpeto assumido de revolução. De encontro ao amor e à paz, por via liberdade, porque cabe a maio cumprir e demonstrar que abril não foi em vão. 

Este tempo chamado maio, maduro só será nesse dia, quando afastarmos os ramos de giesta para aproveitarmos as janelas que a fé nos rasga até nas horas da solidão mais opaca e cruel.

Um maio sem vertigem, por mais alto que se nos espreitem os desejos.

Um maio sem capas e sem adornos, por mais que nos atormente a moral.

Um maio com esquerda e com direita, ambidestro na mais acérrima defesa da dignidade e da verdade.

Um maio com Israel e com Palestina, e com as duas legítimas faces de um Deus só, jamais desmembrado por inspiração do poder do dinheiro.

Um maio sem náufragos, sem cá e lá, sem nós e os outros, sem fome e sem intolerância.

Um maio sem corruptos, sem malabaristas e mágicos no circo da desonestidade, e um maio onde a política não seja a arte da ilusão e da palavra fácil.

Um maio de todos, de iguais, de homens e mulheres… e de beijos tão diversos e tão naturais quanto as pétalas de todas as flores.

Um maio com campeões, mas sem humilhados.

Um maio assim, com entrada por todas as portas do silêncio e com o ímpeto dos pássaros que esvoaçam por entre o pólen, prenunciando os frutos e o verão.

Um maio por amor, e, já agora, com o amor do meu lado.

“Love is on my side”.

 

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