Ολυμπιακοί Αγώνες
Em
Agosto de 2007 visitei Olímpia, na Grécia, e pude constatar o facto de se
tratar de um local onde tudo dispensa legendas e onde as pedras, imponentes e
resistentes às agruras do tempo e da história, nos falam dos jogos que paravam
a guerra, e onde os Homens competiam para alcançar a glória de quem chega mais
longe, voa mais alto e é mais forte: os Jogos Olímpicos.
Hoje,
a chama há alguns meses acesa precisamente em Olímpia em frente ao Templo de
Hera, alumiará o Estádio Olímpico de Londres, onde as nações dos cinco
continentes se encontrarão para competir, sob o mesmo lema de citius, altius, fortius, mas
infelizmente já sem o compromisso de parar as guerras, todas as guerras.
Os
primeiros Jogos Olímpicos de que me recordo são os de 1976, em Montreal, os
Jogos da Nadia Comaneci e da medalha de prata do Carlos Lopes nos 10.000
metros, atrás de um supersónico e super-suspeito Lasse Virén.
Daí
até hoje, guardo grandes memórias de momentos olímpicos, e o difícil hoje, foi
escolher um, bem significativo para aqui partilhar.
Escolhi
um que talvez não sendo dos mais conhecidos, foi importante para nós
portugueses e foi daqueles em que mais senti vivo o espírito olímpico.
Foi
num domingo, dia 5 de Agosto de 1984, decorriam os jogos de Los Angeles, e fez-se
história, porque pela primeira vez, 88 anos depois dos primeiros jogos da era
moderna, se correu a primeira maratona feminina nuns Jogos Olímpicos.
Do
pelotão de heroínas desta primeira maratona olímpica, saiu vencedora a norte-americana
Joan Benoit, que desde cedo se isolou em direcção à meta no Estádio Olímpico, e
a medalha de prata foi conquistada pela norueguesa Grete Waitz.
Rosa
Mota, campeã europeia em 1982 e quarta classificada nos mundiais de 1983,
parecia condenada ao mesmo destino do primeiro lugar fora do pódio, correndo
durante muito tempo na quarta posição. Porém, com genica e com uma garra
incrível, acelera o passo e ao quilómetro 38, a pouco mais de 4 da meta,
ultrapassa ligeira a norueguesa Ingrid Kristiansen. A imagem é fantástica e
mostra a alma de campeã da “Menina da Foz”, franzina, a passar por uma “gigante”
nórdica, impotente perante tanto querer.
Rosa
Mota conquistou a medalha de bronze, e esta foi a primeira medalha olímpica
ganha por uma mulher portuguesa.
Tinham
passado cerca de vinte minutos desde que a vencedora cortara a meta, quando a
realização acompanha a imagem de uma atleta suíça, que em grande esforço e
cambaleando, não desiste e se faz dramaticamente à meta para cumprir o seu
sonho, porque a maior vitória é sempre a que nos é dada pela superação de nós
próprios. A atleta chama-se Gabrielle Andersen, ficou na 37ª posição, a 24
minutos da vencedora, e foi o maior exemplo de coragem, tenacidade e
perseverança que até hoje pude observar num atleta.
Imediatamente
atrás da fantástica atleta suíça, na 38ª e 39ª posição, cortaram a meta duas
mulheres portuguesas, Rita Borralho e Conceição Ferreira, e fizeram-no de mão
dada, celebrando dessa forma a alegria pelo cumprimento do seu objectivo, com
amizade e rivalidades à parte.
Numa
tarde quente na Califórnia, correu-se uma maratona e as mulheres provaram ao
mundo o que é o desporto, e o que deveria continuar a ser.
Há
alguns anos atrás, tive o privilégio de conhecer a Rosa Mota e não resisti a
falar-lhe desta e das suas outras vitórias que como seu fã fui registando na
memória e jamais esqueço. Sorriu com a espontaneidade que a caracteriza e com a
simplicidade das pessoas grandes, limitou-se a comentar:
-
Gostei muito. Foi um momento muito bonito.
Foi
realmente e oxalá se repita muitas e muitas vezes.
E
para terminar, explico que o título deste texto é “Jogos Olímpicos”, vai escrito
em grego, em homenagem à nação que é pátria dos Jogos e que hoje e sempre
abrirá o desfile de todos os países participantes na competição.
Os tecnocratas dos Mercados e do Euro, que a colocaram no “lixo”, jamais
poderão apagar a história da Grécia, o berço da civilização e do pensamento
moderno.
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