O passeio dos etilizados
Na
minha Vila Viçosa de há algumas décadas atrás, existia um homem que com muita
arte e engenho, improvisava violas a partir de todo o tipo de latas velhas de
que dispunha, quer fossem de atum, de azeite, de graxa de sapatos ou cera para
madeiras.
Com
cordas também elas criadas a partir dos fios mais estranhos, percorria as ruas
a cantar em verso tudo o que lhe acudia à boca. Eram rimas que não passavam pelo
filtro do cérebro, pois o seu estado de embriaguez total e permanente, anulava
à partida esta actividade censória habitualmente designada por bom-senso.
Ninguém
o levava a mal. Em primeiro lugar porque o seu curriculum era amplamente conhecido,
e depois, porque na maioria dos casos, já ninguém se dedicava a escutar as
letras das suas canções.
Hoje
consultei o sítio na internet do Diário de Notícias e deparei-me com uma
afirmação do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, relativamente à
implementação do programa de ajustamento em Portugal:
"Foram
feitos progressos importante em áreas tais como o mercado de trabalho, o
mercado imobiliário, no quadro geral da concorrência, no sistema judicial e no
sector dos transportes".
Se
o recurso ao bom-senso não lhe foi vedado pelo abuso de substâncias com forte
componente etílica, estará por certo enquadrado num processo patológico de
características muito semelhantes.
Não
nos chegava já ter de aturar os nossos mestres e líderes lusos, nascidos das
incubadoras das “jotas” e feitos doutores nas “Universidades-Bimby”, como ainda
tinha de vir um ex-governador do Banco de Itália, a compor o ramalhete das
misérias.
Se
ele for tão bom como o ex-governador nosso conterrâneo que lhe faz companhia
como vice-presidente, então fica tudo muito bem explicado.
Mas
o que é mesmo verdade, é que nós estamos cercados de cegueira e incompetência por
todos os lados, dentro e fora.
Os
artistas, os mestres da ilusão e do virtual, tomaram o poder, falam de um mundo
que não existe e dizem coisas que ninguém ouve, num passeio que parece o circo
ou o passeio dos etilizados.
Só que ao contrário do meu amigo “Inventor” de Vila Viçosa, aqui quem tem de improvisar violas somos nós, porque não basta ter unhas para as tocar, tocando a vida para a frente.
Só que ao contrário do meu amigo “Inventor” de Vila Viçosa, aqui quem tem de improvisar violas somos nós, porque não basta ter unhas para as tocar, tocando a vida para a frente.
Em todas as terras há sempre uma figura que se destaca , pela sua forma de vida ser diferente de todos os outros habitantes , mas sempre muitos alegres e bem dispostos
ResponderEliminarSomos um pais de artistas e cada um com a sua manha
RUI PEREIRA