Agarro o tempo...
Agarro o tempo que me abraça e me sussurra histórias
ao ouvido; cuidadosamente e com as duas mãos, não vá escapar-me entre os dedos,
discretamente, aquele segundo que há muito desejo.
Há árvores jazentes na berma da estrada onde as pedras
soltas me ferem o passo. Ardem-me os pés, mas se assim não fosse como poderia
eu dizer que este é o meu caminho?
Não nos pertence nada para lá daquilo que se sente.
Tomei uma vara ali muito perto da fonte de onde bebi
água fresca, e o pó que o meu corpo levanta e o vento arrasta, esmoreceu por
instantes deixando claras as palavras.
Ai se eu fosse poeta...
Suspiro na saudade de um beijo no exacto momento em
que descanso.
Libertava as asas destes "nãos" que as
tolhem e calaria de vez a pequenez dos horizontes, entregaria à sombra das
árvores a mortalha das inconsequências, e buscaria o mar que o meu medo insiste
em selar nos búzios.
Continuo depois como quem acredita. Eu caminho para não
fugir de mim.
No bolso, uma lanterna, a ousadia, e não vá a fé
fraquejar; na boca, o respirar doce de uma Ave Maria.
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