Quantas vidas cabem na tarde de quem escreve uma história?
Raras vezes a verdade se mostra muito facilmente a
quem manifeste intenção de a espreitar...
Aqui sentado a esta mesa de madeira e virado para o Palácio da Pena que muito ao longe coroa o Monte da Lua, acharia quem voasse frente à minha janela, que um homem mergulhou na Sinfonia Número 4 de Brahms para fugir à solidão.
Quantas vidas cabem na tarde de quem escreve uma história?
Converso com a Gertrudes numa casa grande de Vila Viçosa, vejo-a mais gorda a carregar baldes de água desde o poço do quintal até ao lava-louça, e até decido pôr no ar um aroma a Sericá acabado de sair do forno; só porque aquela cozinha está com um aspecto demasiado frio.
Andei à procura das cores de Agosto no Alentejo e fiz com que o Manuel entrasse numa taberna para beber um copo de vinho.
Desenho o sol, coloco estrelas numa noite de lua cheia, ponho versos na boca de alguém…
Tudo, lentamente e letra a letra num desenho que se lê; por onde também passaram a Mariana, a Filipa e a Aurora, que não é lá muito bem vista no contexto desta história.
Sei que um dia terei saudades de toda esta gente que
inventei e do tempo que por aqui passámos juntos.
Um escritor nunca perde o mundo, reinventa mil por
sobre o tempo que lhe dão.
E mesmo que baixe a cabeça, pensativo, taciturno, para
ver como as letras avançam; não caiam no pecado de ver nesse gesto um pranto de
solidão.
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