“These happy days with happy socks”
Quando a Julie
Andrews irrompeu pela RTP1 a entoar melodias, destemida e aos pulos pelas
montanhas de Salzburgo, já os meus pais tinham recebido de presente de Natal,
um tablet, para poderem falar
connosco diariamente por Skype.
O som da música, do coração dos Von Trapp, pois claro, nasceu um ano antes de mim; ali mesmo a
tempo de me acompanhar em todos os Natais, desde a era do Telegrama e do Postal
dos Correios a este tempo imensamente digital. As falas e os rostos são já tão
familiares que será impossível sentir-me “sozinho em casa”.
A mãe melou os nógados
quase em cima da hora da ceia e há três fiadas dos ditos sobre a tábua mais
velha do que eu, talvez da idade da película. A história dos nossos Natais, ao
som da Julie Andrews, poderia
escrever-se assim em linhas de mel e massa frita à chaminé.
Antes que os anjos chegassem ansiosos por cear e nos
apanhassem ainda de volta da mesa, resolvemos ir dormir quando a Baronesa
tentava atrapalhar a história de amor entre a Maria e o Capitão. Amanhã faço a
televisão andar para trás e vejo a cena dos túmulos, que é a minha favorita.
O frio do abraço do lençol que sabemos se dissipará em
minutos, o silêncio das ruas sem carros, a escuridão em que mergulhou o resto
da casa… enquanto alinhavo os meus versos, faz-me perceber que a noite de Natal
foi inventada para os anjos e para os poetas, para que juntos celebremos o amor
colhendo a paz que nos traz a lua.
Não me recordo de ter adormecido mas acordei com o
sino da capela. Um café quente, a missa, o padre que pergunta o sentido da
vida, nós a brincarmos como antes na fila para beijar o Menino Jesus.
Beija-se no joelho ou no pé?
À porta da igreja uma amiga diz que está calor. São
Aurélio, não há frio de Dezembro que resista ao meio-dia dos nossos abraços e
gargalhadas. A nossa amizade contribui para o aquecimento global do planeta.
Deixo a Avenida, baixo-me para não magoar as laranjas
com alguma indesejada cabeçada e...
O sentido da vida?
Senhor Padre Francisco Couto, é definitivamente o
amor.
O amor que não exclui nenhum “pedaço” do que somos e
fazemos, e o amor que concretiza a verdade que trazemos no peito.
“Last Christmas I gave you my heart”.
É irónico que o George Michael parta num dia de Natal
e por causa de uma crise cardíaca.
O amor, a vida, a fé, o tempo… e a urgência de nos
deixarmos acontecer.
Vou ficar por aqui esta semana, entre outras coisas
para que os meus pais se familiarizem com o Skype.
E os dias quando são felizes exigem que tudo se alinhe
com eles. Até as meias.
É aproveitar porque a vida ainda não imita a televisão
na hora de andar até às “cenas” de que pretendemos matar saudades.
Comentários
Enviar um comentário