Reformados de terceira geração
Faço-me
ao sul pela Ponte 25 de Abril, e passada a Marateca com destino ao Algarve, só
eu e a GNR circulamos na A2. Não fora o facto de os agentes estarem aqui não
para me proteger mas para me caçar, e diria que estaria próximo da sensação da
Sra. Merkel ontem em plena Marginal.
E
é fácil lembrar-me da dita pois não consigo sintonizar um posto radiofónico em
que não se esteja a divagar sobre a recente visita da Senhora a quem hipotecámos
este nosso T0 com vista para o Atlântico, e que de caminho na hipoteca nos
levou também as nossas vidas.
Ouço-a
falar dos bravos navegadores dos anos de quinhentos, dos Heróis do Mar, mas
essa conversa tem para mim o mesmo valor prognóstico de um algodão impregnado
em álcool e a massajar o músculo: vem lá picada dolorosa.
Não
sei se pelo elevado valor do juro que estamos a pagar, o que é certo é que
parando na Área de Serviço de Aljustrel tive a oportunidade de pela primeira
vez na vida, ter uma Área de Serviço só para mim. Confesso até que saí do carro
na expectativa de encontrar um letreiro do tipo: “Fechada para obras.
Prometemos ser breves”…
Depois
de tomar então a minha Bica com estatuto de cliente raríssimo, faço-me
novamente à estrada e ainda a tempo de ouvir o noticiário da hora certa.
Ainda
e sempre a Merkel, a austeridade, as previsões catastróficas da economia, e
também as declarações de um Secretário de Estado das Finanças que a propósito
da urgência da revisão do “deveres” do Estado Social ilustra os seus argumentos
com uma cena com que separou recentemente na sua rua.
Conta
o ilustríssimo que uma idosa acompanhada por uma outra mulher mais nova, se
cruzou com uma terceira mulher a quem cumprimentou e a quem apresentou a neta,
que a acompanhava, referindo que a mesma se tinha reformado recentemente.
Conclui o Governante que é impossível que o Estado tome conta de três gerações de
reformados.
Pasmo
perante a eloquência da criatura, com um discurso que se aproxima em termos
verbais da elegância da pose e do andar “escarchado” da Merkel com os seus
casaquinhos assertoados e a três quartos que cada vez mais lhe acentuam a
proeminência da adiposa cintura.
Mas,
pasmar porquê?
Se
somos vítimas das Novas Oportunidades e do saldo de licenciaturas e pós-graduações
de graduações inexistentes, não espanta que haja um Secretário de Estado que só
consiga dar exemplos ao nível do que aprendeu na catequese e nos escuteiros
quando lhe diziam por exemplo que uma boa pessoa é aquela que não tira burriés do
nariz para os colar ao fundo da cadeira.
Acredito
que para este senhor, Portugal seria um paraíso se tivesse menos Portugueses,
mas já agora dos que não descontam. Como seria confortável para o Estado que a
morte nos viesse atapetar a saída do mercado de trabalho após dezenas de anos a
pagar impostos a níveis escabrosos.
Mas
para além do mais, que exemplo tão mal escolhido e tão pouco solidário para com
os seus colegas, pois os únicos cidadãos que em Portugal e por altura das suas
reformas, correm o “risco” de ter vivos os avós, são os da sua classe, os
políticos.
A
imbecilidade e a falta de sentido de oportunidade, a desabrocharem da mais
profunda ausência de bom senso, adubada pela pérfida incompetência na
interminável saga em que o Estado Político vai acabar por asfixiar o Estado
Social.
E
se é verdade o que o que a Sra. Merkel afirmou relativamente ao facto da Economia
ser 50% de Psicologia, esqueçam lá isso dos deficits e dos rácios económicos.
Nunca lá chegaremos mesmo que os outros 50% funcionem.
É que Psicologia sem cabeça, nem por milagre.
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