Olhar o céu
Um
helicóptero branco rasga os céus de Roma, transportando um Papa que o deixa de
ser, por certo, por inspiração divina, mas objectiva e racionalmente, por
expressão da sua própria vontade.
Estranha
a imagem da cúpula de São Pedro em momento de “Sede Vacante” no adeus a um Papa
que não morre, apenas voa neste visível e humano “céu” por cima das nossas
cabeças.
Fala-se
de renovação e alimenta-se a esperança.
De
facto, não é necessário morrer para mudar o curso da história. Basta querer,
basta voar, e a esperança acontece…
É
a tarde do último dia de Fevereiro e quis a sorte que o meu olhar se entregasse
ao perfeito céu da cor mágica e infinitamente branca de Lisboa. Subo a rua de
São Bento e o céu é meu, mesmo sem o desenhado voo da “Gaivota” cantada por
O’Neill.
E
entre mim e o céu, há rubras sardinheiras nas janelas de Amália e um pouco mais
abaixo, numa casa forrada a azulejos azuis, há uma amor-perfeito em tons de
amarelo que, em jeito de desafio, me espreita debruçado do ferro forjado de uma
varanda.
O
céu não existe apenas para que possamos voar…
Contemplando
o infinito na legitima ambição de quem segue os sonhos, será por certo de amor
que se nos marca o fado nesta festa de existir.
O
céu era maior quando após o almoço me deitava de costas sobre as ervas, por
esses dias na companhia dos malmequeres, das papoilas, do rosmaninho, da
giesta, da esteva e da imponência das dedaleiras, sempre que acompanhava a
minha avó ao campo, no Vale da Rabaça, no Carapiteiro ou na Fonte Cebola, para
que num ribeiro de águas límpidas e correntes, entre o lavar, o corar e o
secar, ela nos trouxesse para o sono todos os aromas perfeitos nascidos da
terra e por bênção do céu.
O
céu era maior porque tudo é maior quando contemplado por um olhar de criança.
E
desde ali, a olhar o céu, viesse alguém e me falasse de impossíveis…
Hoje
começa Março, e desde aqui e até à primavera, há apenas a distância de um
brevíssimo momento.
Avancemos então ambiciosos para a primavera, a voar ou… pelo menos, ao
jeito de quem olha o céu e segue os sonhos.
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