Olisipo
Por
mais que a brisa a tente, e por muito que o inverno, a vento e chuva, lhe
assinale as noites, Lisboa jamais se renderá ao frio.
E
o luar é acendalha, mote perfeito. E pelo trinar da guitarra e pelo fado, viela
a viela, se incendeia a cidade que mais do que cidade, é berço e lugar
património de todas as almas.
Maga
maior de entre todas as pátrias do universo, provo-lhe a alquimia num breve
instante, numa noite de sábado, olhando o Rossio, de Ginjinha na mão e a tragos
adoçando o ser, ali algures entre São Domingos e o Teatro Nacional, à sombra do
Palácio da Independência, escutando a voz dorida de um mendigo que troca fado
por pão, no caminho que nos leva ao Coliseu.
E
a alquimia de Lisboa está nessas palavras que dela brotam, letras nascidas poesia
pela verdade que “roubam” à alma da gente.
A
alma, a mesma que o teu olhar deixa transparecer e me fala nessa aparente
quietude de um sofá embalado pela música de um canto vindo do Pireu,
mediterrânicas confluências e cumplicidades na noite da cidade que tem Ulisses
na genética do seu nome.
E
não sei, nem nunca saberei, se as tuas lágrimas me dizem sim ou expressam um
não, nesse momento em que os lábios traem os sentidos e se entregam à terrível
e racional consciência, eficácia homicida do percurso das percepções doces dos mandamentos
da própria alma.
Sei
apenas, isso é certo, que cada sim ou cada não, carrega sempre em si mesmo, a
dor da saudade de um adeus.
E
um sim ou um não, marcará sempre o principio, o primeiro momento de uma vida
qualquer. Outra vida.
Chove
em Lisboa.
Não,
a cidade não se rendeu ao frio nem ao inverno, apenas chora.
E
chora comigo, jamais por mim, cumprindo-se na essência, cúmplice das errâncias que
os sonhos dão.
Lágrimas
de Lisboa, inevitável choro, nuvens desfeitas, cortina aberta, devolução do
luar que incendiará de fado e poesia, os recantos da viela.
E
sob o luar, outra vida.
Mas sempre contigo.
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