Até o Liffey ganhou ares de Tejo…
Numa
conversa que começou com assuntos exclusivamente profissionais e que desembocou
em Portugal com a admiração e o porquê de eu falar um Castelhano fluente (Juan
Blas andas sempre a ser falado!), uma médica de nome Maria, da Cidade do México
e, suponho, porque não lhe perguntei, com uma idade algures pelos setenta anos;
disse-me que conhecia muito bem Lisboa e o Rio Tejo.
Perguntei-lhe
quantas vezes é que ela tinha estado por ali, e a resposta, surpreendeu-me:
-
Nenhuma.
E
explicou:
-
Conheço Lisboa e o Tejo através das canções de Amália Rodrigues.
Nem
mais.
Eu
respondi-lhe com a minha admiração por Chavela Vargas, e assim, num Centro de
Congressos em Dublin e a mirar o Liffey, a conversa acabou com um dueto
improvável entre as duas divas, imortais como assim se prova.
E
porque o Tejo voltava sempre à conversa, eu falei-lhe de Camões, das Tágides,
ninfas evocadas para dar inspiração em “Os Lusíadas”, e de como o nosso rio é então
berço de tantos deuses que inspiram poetas… e apaixonados; e disse-lhe que às
vezes não resisto e vou namorar para as margens onde o rio beija a cidade e
onde beneficio de uma vista de 180 graus de um intenso azul.
E
depois chego a casa e escrevo sobre o amor.
Ela
sorriu e disse-me baixinho:
-
Não é inspiração. As almas dos poetas andam todas por ali e sussurram-lhe
coisas bonitas ao ouvido, e o senhor nem dá conta.
Eu
brinco:
-
Pois não, só tenho olhos para a pessoa mais bonita do mundo, que me acompanha.
Ela
sorriu, despediu-se agradecendo a conversa e desejou-me sorte.
Já
havia mais gente à espera para eu atender.
Sinceramente
não sei se os poetas andam pela beira Tejo ou por aqui, tão pouco sei se me
sussurram coisas ao ouvido, o certo é que a poesia existe e se solta de tudo e
de onde às vezes menos se espera.
Até
de uma brevíssima e improvável conversa de trabalho.
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