Esta noite…
Esta
noite...
Toda
a noite sonhei contigo.
Voávamos
juntos cruzando o céu que o pôr-do-sol desarmou de azul e tingiu de laranja,
como pássaros livres e enamorados pela geometria perfeita das quadrículas das
ruas da Baixa de Lisboa.
Aqui
e ali, numa esquina, a ver o rio, o Chiado ou o Castelo, pousávamos para que as
palavras pudessem sair envoltas no acrescento da verdade doce que sempre lhes
oferece o olhar.
E
eu não me canso nunca de te olhar...
Caminhante
sequioso em busca de uma fonte, sou eu pelos dias nesta vontade de te ter por
perto... e poder voar.
Às
vezes por entre o olhar e as palavras, enquanto voamos ou caminhamos sobre a
calçada, interpõem-se as mãos, indutoras perfeitas do despertar sensorial
desta infinita paixão que começa na alma, muito a montante do que é
humanamente explicável.
E
tão siamesa é esta vontade que faz com que as minhas mãos suspirem de amor
pelas tuas...
E
os meus braços pelos teus braços…
E
os nossos lábios nos convoquem para a hora de um beijo...
Quem
voa, mesmo que às vezes apenas num sonho, conhece o enormíssimo valor da
liberdade, e foi ela por certo que nos inspirou o canto deste tanto querer, num
voo que com o anoitecer se fez cúmplice da lua e colheu dela toda a magia.
Toda
a noite sonhei contigo, e o mais curioso é que não me recordo de ter pedido ao
sonho para não se deixar morrer, como sempre fazemos quando eles são bons e se
aproxima a madrugada.
Eu
sei que num amor assim a consciência e o estar vígil nunca conseguem matar a
nossa capacidade de sepultar os impossíveis nos panteões, deixando-nos ir pela
liberdade.
E
depois há Lisboa…
Se
há cidades que nunca dormem, Lisboa, pelo contrário e por ti, dorme todas as
noites abraçada a mim.
E
tu e ela fazem-me voar.
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