Entre Sophias e Ginas
Depois de uma
viagem de táxi para o aeroporto em que o meu estômago foi agitado como numa
montanha russa pelas travagens e arranques da condução de um motorista louco
que passou o tempo todo ao telemóvel com um tal de Massimo qualquer coisa; regressar
de Roma num avião cheio de peregrinos Italianos que vêm para Lisboa para depois
irem até Fátima é uma espécie tão estranha de paraíso que quase nos faz querer e
desejar muito todas as chamas do inferno.
Nada
poderá ser pior do que isto.
As
primas afastadas da Sophia Loren
gritam como se não existisse amanhã, não conseguem escutar que o embarque será
feito por filas, não vêm a sinalética com os números dos lugares, bloqueiam a
coxia com as suas ancas avantajadas alimentadas a Lasanha, esparguete e Cannelloni,
tropeçam nas bengalas umas das outras, chamam alto pelos maridos; e por entre
os copos de vinho tinto que pedem às meninas da TAP, dão cabo da cabeça ao
padre que as acompanha e que ganhará um indiscutível estatuto de santidade no
final de tal viagem.
Perante
esta visão dantesca, as hospedeiras adoptam um bem Italiano enigmático sorriso
de Gioconda, assim algures entre o estar feliz e o estar incomodado com uma
forte dor de barriga, acabam por desistir em pôr ordem na aeronave; enquanto eu,
sentado a uma janela e acompanhado por um casal em que a mulher, sentada na
coxia, é tão gorda que cria uma intransponível barreira entre mim e qualquer
espaço de mobilidade que eu possa ter, acabo por matar as pouquíssimas saudades
daquelas excursões em que o “Malhão, malhão” era acompanhado pelo toque de uma pandeireta
e as anedotas eram contadas ao microfone por alguém que já tinha bebido um
pouco mais do tinto que ia no garrafão.
O
momento de maior aflição vivo-o no entanto quando a mulher tenta baixar a mesa
à sua frente para poder comer a parca refeição que lhe iam oferecer, pois não
conseguindo endireitá-la mas não desistindo de tentar e fazer pressão, eu fico
com a claríssima sensação de que os pulmões lhe irão saltar pela boca a
qualquer momento e acertar-me em cheio algures descompondo-me o fato.
As
vendas a bordo também foram interessantes, com as “Ginas Lollobrigidas”, temendo por certo os raios de sol da Cova da Iria,
a experimentarem todos os óculos de sol existentes no carrinho e sorrindo umas
para as outras com um estilo entre o Jô
Soares e o Benny Hill no apogeu
dos seus respectivos programas de humor.
Depois
finalmente Lisboa, a viagem de autocarro até ao terminal nos mesmos preparos,
mas consigo finalmente perceber que viajámos todos num avião de nome José
Régio.
Agora
não me espanta nada, pois o que vivemos foi a incorporação do mais negro de
todos os cânticos.
E
como diz o magnifico poeta, repito eu agora já liberto deste “Tiramisú” mas de
travo bem ácido:
-
“Não, não vou por aí!”
Ou
melhor, antes não tivesse vindo.
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