A manhã que cheira a tangerina...
Quando a fome destapar o aroma da tangerina, eu seguirei
pela manhã, gomo a gomo, como quem te procura vasculhando a memória.
Matámos as convenções logo ali, ao primeiro beijo,
deixando depois que o silêncio se fosse impregnando aos poucos das palavras que
a ausência de fôlego travou, e não nos deixou dizer.
Mas também, qual será o detalhe de amor que poderá ser
soletrado e que este beijo ainda não disse?
As sílabas que os nossos lábios amordaçam quando se
dispõem assim, uns de encontro aos outros, diluem-se no desejo, entrelaçam-se
na vontade, ficam impregnadas de rosas vermelhas e libertam-se sob a forma de
um gesto que sonhámos.
E que bom que é poder saborear as contradições
inscritas numa paixão como a nossa…
Os silêncios que falam, o voo de liberdade quando os
meus braços se atam aos teus; e o edredão que nos protege do frio parece
desenhar o teto de uma casa alta, quente e com janelas, onde se vive de
verdade.
A harmonia quando a paixão afinal me desatina, e eu sigo
pelo pensamento numa manhã que cheira inevitavelmente a tangerina.
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