A poesia vive à superfície das horas…
Os poetas não necessitam escavar galerias e andar pela
essência mais subterrânea dos dias; a poesia vive à superfície das horas, mesmo
até das que parecem mais banais e previsíveis.
Numa manhã como tantas outras, o meu sobrinho João respondeu
ao pai, o meu mano Zé Artur, que a noite não tinha sido grande coisa porque os
sonhos não tinham entrado.
Peguei nessa ideia e num dos bonecos preferidos do
João e do Luís, aquele que dá gargalhadas quando lhe apertamos a barriga e que
se chamava PJ, por ter sido oferecido pelo Paulo Joaquim; e construí o conto
"A noite em que os sonhos não entraram" que hoje apresento em Vila
Viçosa.
Quando a tarde se aproximava do fim e eu estava na
Livraria Escolar da minha amiga Joana Ruivo, chegavam às vezes alguns amigos
que ficavam connosco à conversa. Uma livraria é uma casa para as palavras, as
escritas ou palavras ditas assim em conversa informal.
Um dos amigos que chegava era o Senhor Francisco
Lourinhã, o primeiro presidente da Câmara Municipal de Vila Viçosa eleito após
o 25 de Abril de 1974, que ontem partiu.
Aqui no mesmo fim de semana da minha terra sobressaem
as minhas palavras mas também as memórias das pessoas que informalmente e sem
terem a noção disso, me foram ensinando a contar as histórias, por me terem
ajudado a descobrir a excelência que existe nas coisas mais simples.
Porque a poesia vive à superfície das horas e os
poetas nunca serão os seres mais inspirados, mas sim aqueles que conseguem
despir-se do pudor e dizer tudo aquilo que sentem.
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