Tarde de Outono
Não
fora conhecer de cor todos os contornos da vista da minha janela preferida aqui
de casa, e diria que lá ao longe, a curva da Mata dos Medos e da Caparica, que
me revela todos os dias o esplendor do Cabo Espichel, jamais existira.
Não
há Tejo ou Atlântico no meu horizonte, só o nevoeiro, que há séculos sabemos jamais
nos trará de volta “Dons Sebastiões”, mas que nos oferece esta estranha sensação
de “paraíso” no outro lado do mundo, da Nicole Kidman como Grace no fantástico “Os
Outros”, de Alejandro Amenábar.
Faço
um café. Mas de saco, que os dias assim pedem mais do que um sorvo potente de
uma Bica ou Cimbalino, pedem uma caneca cheia para prolongar ao limite o
conforto do aroma e do sabor.
Passo
pela televisão e não consigo que um canal sequer me prenda a atenção, de entre
as dezenas disponibilizadas pela minha box Zon,
Desligo
assumindo sem pudores que há definitivamente uma linha que me separa dos gostos
televisivos da maioria dos meus compatriotas numa tarde de domingo, e por essa
linha deixo-me ir até à aparelhagem, hesitando todavia na banda sonora a eleger
para o momento.
Uma
tarde assim está a pedir definitivamente, fado, e a Kátia Guerreiro há muito
não sai da prateleira:
“Talvez
tu não conheças mas existe
Um bosque de folhagem permanente
aonde não te encontro e fico triste
Mas só de te buscar fico contente”
Um bosque de folhagem permanente
aonde não te encontro e fico triste
Mas só de te buscar fico contente”
Aninho-me
no sofá, tapo-me com a minha manta vermelha de mangas, e não coloco reservas a
que o pensamento voe pelas palavras dos poetas, desfrutando desse único massajar
de alma que só nós lusitanos conseguimos capturar dos acordes da guitarra que
fizemos nossa.
A
lareira já está acesa e as castanhas assam no forno e não tardam a estalar-me
quentes entre os dedos, quando o chá verde da Gorreana com aroma de jasmim vier
dar continuidade à cafeína, nas minhas bebidas desta tarde.
Lá
fora escurece e o nevoeiro está cada vez mais intenso. Por hoje, o sol desistiu.
Pouco
ou nada me importa.
Há
dias que são os melhores, apenas e só por nos devolverem a nós.
Magnifico... Gostei bastante :)
ResponderEliminarParabens esta lindo
ResponderEliminarTodas as cores concordam no escuro.
Rui Pereira