Tuga®
Estão
ao meu lado a almoçar metades de Pizza enfeitadas de saladas de alface, verdes
descarregares de consciência da dieta que os seus volumes exigem, mas que a sua
gula e ansiedade de todo impedem de acontecer. São quatro e falam com um sotaque
situado algures entre o da D. Dolores Aveiro e do Joe Berardo.
Cometo
o pecado da indiscrição, escuto-as e não haja dúvidas, transpiram “portugalidade”
por todos os poros.
Porque
há marcas que estão mais coladas a nós do que o Pastel de Nata…
O
Português nunca está bem, está sempre menos mal. E vai indo.
Quando
afirma “eu não sou de dizer mal de alguém”, preparem-se os interlocutores,
porque de seguida haverá pelo menos três horas garantidas da mais pura fofoca e
maledicência. Não escapará ninguém e isto é não gostando de dizer mal…
Raramente
assumimos o apetite e o prazer de comer, travestindo de sacrifício, o gozo que
temos em estar sentados à mesa durante horas, degustando todos os pratos entre
o pão com manteiga e a inevitável bica.
Elogios?
Só
aos mortos e até o mais santo dos santos, há-de ter um defeito que nós não descortinamos
mas que por certo estará lá.
Mas
dizendo mal de tudo e todos, o que acontece quando se questiona sobre a
necessidade de activar uma revolta:
-
Não vale a pena. O que é que ganharíamos com isso? Só nos iriamos aborrecer.
Adoramos
entrar no Campeonato da Pechincha e sabemos sempre comprar mais e melhor do que
os demais, com uma incrível arte para negociar. “Eu conheço um sítio…”
Somos
alérgicos à pontualidade e ai de quem a siga cegamente pois é rude,
intransigente e insensível.
Em
situações de apuros activamos o “desenrascanço” e sem dor “parimos” o misto de “Chico
Esperto” e “Mac Gyver” que há dentro de nós. Numa fila de centenas de pessoas à
espera para serem atendidas, não raras vezes convivemos com a “lusa lata” de um
ser que ultrapassa todos com a jeitosa e costumeira desculpa:
-
Vou lá à frente só para uma perguntinha.
Estamos
sempre cansados, trabalhamos mais do que todos e mesmo que a nossa actividade
seja vender barquilhos na Praia da Costa da Caparica, com todo o respeito pelos
vendedores de barquilhos, todos assumimos que sem nós, a República Portuguesa
morreria inevitavelmente.
Nós
somos sempre importantes. Mas então e os nossos maridos e as nossas “esposas”?
Têm trabalhos espectaculares, conhecem toda a gente, fazem carradas de
pós-graduações e são capazes de mover a humanidade toda pela sua arte e
influência.
E
se para além disso existir pelo meio uma casa com piscina ou um filho a caminho
de ser doutor, vai lá, vai…
Depois
de muito comer e mais conversar, depois das pizzas, dos gelados, das bicas e
das águas com gás na versão “Brisa Tónica”, as quatro “Estrelícias XL” minhas
vizinhas de mesa, resolvem pagar a conta com quatro procedimentos de multibanco,
em competição de cartões dourados, preparando-se de seguida para o regresso à sua
Repartição de Finanças, onde por certo receberão as pessoas já à porta e a
fazer fila, com ar de sesta e com arrotos de aroma de anchova, patrocinados
pela bendita da água tónica.
Funchal,
Ilha da Madeira, Portugal no seu melhor.
Não há momentos bons e ruins , apenas inesquecíveis.
ResponderEliminarRui Pereira