A ceia de Natal
A
chegada tem esse inesquecível sabor doce do beijo dos avós, enquanto na casa há
aromas de sobro a arder na chaminé, alinhados com o bacalhau, as couves e as
batatas que sobre a mesa aguardam o tempero do azeite, para que a fios de ouro
líquido se debrue a festa que a todos nos chamou.
Ao
redor da mesa, há sorrisos e sobeja afecto nas palavras, nos olhares e até no
mais simples gesto. É a alma a usar todo o corpo no expressar da sua
felicidade.
O
fim do jantar convoca-nos para a lareira acesa onde uma ronca ou zabumba que
fazemos vibrar por entre as mãos molhadas, com o crepitar da lenha, dá o mote
para o canto ao Menino que esta noite nos impõe à voz.
Enquanto
isso, na cozinha, o bulício das mulheres assegura a ceia.
O
sino toca e chama-nos à missa que é do galo e a que acudimos pronto, fingindo
sempre não reparar que o pai ficou para trás, possibilitando dessa forma que a
magia dos presentes trazidos pelo Menino Jesus se possa cumprir no momento do
nosso regresso a casa.
Na
Igreja, estamos todos, no encontro dos melhores capotes e samarras, na noite
das mil campainhas que anunciam o cumprir da profecia de um Deus que chega e se
faz Homem.
E
canta-se Glória…
De
volta ao lar, há presentes junto à lareira, e sobre a mesa já está a toalha do
melhor linho e de rendas finas, onde brilha a carne de porco, o pão, o vinho, o
cacau, as filhós, azevias, coscorões, aletria, arroz doce, borrachos,
rabanadas, bolo-rei, broas, e claro, todos os sonhos, porque é essencialmente
de sonhos que se faz uma noite assim.
Já
é tarde e nem a férrea vontade de usufruir dos brinquedos há tanto desejados,
detém o sono que nos faz adormecer no colo das mães.
Chegou
a hora de nos separarmos, mas por breves instantes, pois a noite é demasiado
curta para a vontade enorme de voltar quando a mesa do almoço já estiver posta
e à espera do peru. Prepara-se o regresso a nossa casa, entre os braços do pai
e os cambaleantes passos na rua deserta onde só o eco nos acompanha.
Faz
frio, e por isso a avó não nos deixou sair sem que trouxéssemos o calor do seu
xaile que cheira a ela e aos seus beijos, que assim nos acompanham no cumprir
de um privilégio sem par.
E
nem damos pelo facto de a cama estar fria, quando a mãe nos despe e faz
mergulhar entre os lençóis.
Há
muito que nos entregámos ao sono na certeza de que com ele virão esses sonhos
únicos de uma noite nascida perfeita, de uma noite de Natal.
Bonita e interessante descrição do que é a (verdadeira) noite de Natal !!!
ResponderEliminarObrigado por teres feio a descrição da ceia de natal que serviu de abertura para o lanche de natal no centro de formação
ResponderEliminarRUI PEREIRA