Tostãozinho para o Menino Jesus
Por
esta altura do ano, quando se aproxima o Natal, se há coisa que me tira do
sério, é a presença junto às registadoras dos estabelecimentos comerciais, de
umas caixinhas destinadas a recolher as moedas dos clientes, tendo por perto mensagens
do género:
“Os
funcionários deste estabelecimento desejam a todos os clientes, um Feliz
Natal”.
Há
caixas para todos os gostos, desde as mais rústicas forradas à pressa com o
mais reles dos papéis de embrulho comprado nos “chineses” e um buraco para as
moedas aberto grosseiramente à tesourada, até às mais elaboradas e requintadas,
com adereços natalícios como micro árvores de Natal, estrelas, presépios ou
mesmo algum Pai Natal de peluche montado na borda de cestinhos de vime.
As
frases também variam muito, assim como o tipo de caligrafia das mesmas e que as
torna mais ou menos perceptíveis, sendo sempre de registar, as derivações em
volta da palavra “prosperidade”, que aplicada ao novo ano tanto pode chegar a
próspero como a propriedade.
E
porque é que eu detesto esta acção global de recolha de moedas ao melhor estilo
de “um tostãozinho para o Menino Jesus”?
Em
primeiro lugar acho degradante que o local onde eu todos os dias me dirijo para
tomar um café ou almoçar, tenha ao seu serviço funcionários tão mal pagos que
seja necessário o meu esvaziar de carteira para que o seu Natal possa ser mais
risonho. Os proprietários destes estabelecimentos deveriam ter vergonha ao
permitirem e fomentarem estas acções ao estilo “caridadezinha” que ferem a
dignidade a que os seus funcionários têm direito.
Depois,
porque agradeço sempre que me desejem um feliz Natal ou Ano Novo, mas por
favor, de uma forma espontânea e desinteressada. Recuso-me a comprar esses
votos, nem que o seu preço esteja a saldo e corresponda à entrega de todo o rol
de metal “preto” que em determinado momento me possa estar a pesar no
porta-moedas.
Já
me basta receber os SMS de parabéns da Multiópticas, da Saccor, da Mr. Blue, da
Decénio, do Continente ou da Optimus, que nunca são dados com o intuito de me
porem feliz, mas sempre com o objectivo de me caçarem os Euros na minha próxima
ida ao Shopping.
Para
além disso, irrita esta sazonalidade no humor e nos afectos, que põe empregados
mal-educados e antipáticos, a desejarem-nos um Natal Feliz. E na Páscoa? No
carnaval? E nos restantes dias? Atiram-nos com o troco e tratam-nos com
agressividade.
Esquizofrénica
é também esta dualidade de discurso entre a comunicação oral e a escrita nas
mesmas pessoas e no mesmo espaço físico. Tratam-nos com aspereza ou
indiferença, e depois, chegados à caixa lá está o cartãozinho com tanta
simpatia escrita.
No
fundo, e procurando uma justificação para tais atitudes, podemos concluir que
elas vêm de encontro à sobranceria e à “chica-esperteza” que nos caracterizam e
que fazem da linguagem simples das moedas, um vicio e uma instituição nacional designada
por gorjeta. Quem dá a moeda sente-se importante e quem recebe, com íntimo de “chico-esperto”pensa
sempre que já enganou mais um com as suas cantigas e já lhe sacou uma moedinha.
Por mim, peçam-me o preço justo pelo que consumo, desejem-me Feliz Natal
sempre que quiserem mas sem se fazerem à moeda, sejam felizes, e sobretudo, não
me chateiem.
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